as crônicas do sonhador
Crônicas de um Sonhador

As Crônicas do Sonhador | Capítulo 3: O Fantasma de Areia

Pensei que estaria livre dos sonhos estranhos, mas outra vez me vi em um interminável deserto. Escutava vozes que não conseguia reconhecer. Era uma mistura de agonia com alegria comum em um alívio. Mais uma vez acordei exausto.

Tentava acostumar com o que estava acontecendo. Tudo parecia surreal, inacreditável. Quanto mais eu testava criar coisas novas, mais eu conseguia entender como funcionava. E não fazia ideia do porquê eu tinha esses poderes. Quanto mais eu pensava no assunto, mais confuso ficava.

Levantei sonolento, liguei meu computador para checar as visitas em meu blog e não tive surpresa ao ver que não havia visitas. Era um projeto pessoal, deixei de lado meus livros para me dedicar a notícias que andava pesquisando, assuntos que muitos não tinham coragem de falar, mas eu precisava.

Na escola vi novamente o aluno novo chegar atrasado, com sua expressão carrancuda e desleixada. Não estava frio, mas insistia em usar sua jaqueta de couro. Seu nome era Max, ou pelo menos era o nome que respondia à chamada, não ficaria surpreso se fosse uma identidade falsa, aparentava ser bem mais velho que a média da turma. Julia tinha medo dele, mas eu até gostava do seu estilo motociclista.

— Ele não parece aqueles malucos dos jornais que entram em escolas e fazem coisas muito ruins? — Julia sussurrou disfarçando.

Ri com o medo exagerado dela, para mim ele parecia apenas alguém que estava onde não queria e eu o entendida.

— Vamos entrar no jornal da escola? — perguntei animado.

— Você quer entrar só por causa da Ester, não é?

— Com certeza. É uma forma de me aproximar dela.

— Vocês meninos são tão previsíveis.

— Entra comigo, por favor, nunca te pedi nada.

— Sei… — ela pensou na possibilidade e continuou. — Acho que vai ser engraçado te ver paralisado igual uma estátua quando ela falar com você.

— Ela me pegou desprevenido ontem.

— Sei. Todas os dias no ano passado também — ela riu tentando não produzir som no meio da aula.

— Esse ano vai ser diferente.

Durante o intervalo escutamos gritos que se misturavam com zombaria e desespero. Eu e Julia estávamos no pátio, uma área ao ar livre. A escola tinha terreno extenso entre o prédio com as salas e a quadra. Vimos uma mesa ser arremessada através da janela. O vidro se estilhaçou e por sorte não machucou ninguém. Os alunos correram para ver o que acontecia e notamos a baderna nos corredores do segundo andar. Da rampa que levava ao pátio vimos correr alunos que pareciam envolvidos com a confusão generalizada que se formou.

Marcos correu em minha direção, era considerado um dos piores alunos da escola. Sempre envolvido em problemas, não gostava dele. Tive o desprazer de estudar alguns anos com ele e não havia paz onde ele estava. O aluno baderneiro passou por mim e se escondeu atrás da biblioteca externa. O diretor desceu com os inspetores na tentativa de conter a revolta estudantil. Escutei gritos de “fora diretor”, muitos estavam insatisfeitos com sua postura firme. O diretor Braga avançou em minha direção e me perguntou:

— Para onde Marcos foi?

Apontei receoso para o esconderijo dele. O diretor avançou em direção onde ele estava e o carregou o segurando pelo braço. Marcos era alto e forte, acima da média para a idade, mas o diretor era mais forte, um militar em sua boa forma. Marcos olhou-me enquanto era arrastado e seu olhar indicava que sua raiva cairia sobre mim.

Após muitos esforços por parte dos funcionários do colégio, a baderna se desfez, mas o assunto era comentado por todos. Muitos se declaravam insatisfeitos com as medidas do diretor, consideravam regras muito rígidas, não gostavam de ter que cantar o hino nacional, já outros achavam necessário, e entre esses havia aqueles que nas boas intenções tinham excessos por parte do diretor. Julia gostava dele, era do tipo estudiosa e gostava de organização. Eu também de alguma forma. Não ligava para estudar, mas a desordem me incomodava. Os alunos voltaram para suas salas após o intervalo e pouco foi produzido, os ânimos ainda estavam agitados.

No final das aulas fui ao banheiro antes de voltar para casa, Julia me esperaria no pátio. Senti que estava sendo seguido e recebi um encontrão, e tive meu rosto pressionado contra a parede.

— Quem mandou me entregar, seu retardado! — era a voz furiosa de Marcos. — Por sua culpa quase fui expulso.

Ele continuava pressionando meu rosto e não conseguia me livrar. Debati-me e acertei um chute em sua perna. Não surtiu efeito e eu o chutei com mais força e ele me largou. Corri até o banheiro, era a única rota que me restava. O corredor estava vazio e não sabia até onde ele era capaz de ir. Fechei a porta e me tranquei em um dos sanitários. Pensava nas possibilidades e nenhuma terminaria bem. Ele entrou no banheiro abrindo a porta com força, parecia caçar.

— Onde está seu miserável? — Marcos parecia gostar do que estava fazendo.

Minha mão tremia e ele abria as portas dos sanitários uma a uma, eu estava na mais distante. Não havia alternativa. O esperei forçar a entrada em um novo sanitário e imaginei uma grande porção de areia dourada. A areia se formou atrás de suas costas forçando a porta a permanecer fechada, o trancando dentro. Em um breve instante todo o banheiro estava tomado pela areia. Marcos gritava sem entender o que acontecia, batia na porta pedindo para deixá-lo sair, sua voz era de pânico enquanto o volume de areia crescia, deveria estar na altura de sua cintura.

— O que está acontecendo? Quem está aí? — gritava desesperado.

Saí do meu esconderijo por cima da areia dourada com um sentimento de triunfo, mas durou pouco tempo. Na entrada do banheiro havia um observador indesejado. Max presenciava tudo sem mover um músculo. Passei por ele na esperança de não ser acusado, mas Max permanecia imóvel. Não demorou muito para uma pequena multidão se formar atraídos pelos gritos de Marcos. Todos estavam assustados com o acontecido, tentavam entender como tanta areia foi parar no banheiro do segundo andar sem que ninguém visse. Assim nasceu a lenda do fantasma de areia no banheiro do segundo andar. Uma lenda urbana que diziam ser o antigo diretor da escola que morreu e queria vingança contra os alunos baderneiros. Bobagem, eu sei, mas preferia que pensassem isso. O diretor recolheu um pouco da areia dourada. Afastei-me antes que Marcos pudesse ser resgatado. Ouvi uma voz próxima dizendo:

— Eu sei que foi você, não sei como, mas foi você — Max sussurrou e seguiu andando a minha frente.

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Guilherme Orbe

Desenhista, escritor e sonhador. Comecei a criar histórias na infância e nunca mais parei. No começo me dediquei as histórias em quadrinhos, onde desenvolvi minhas habilidades de desenho. Hoje me dedico a literatura, e transformo minhas histórias em livros. Criar histórias é meu passatempo favorito.

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