Histórias,  Memórias de um Soldado

Memória de um Soldado #6 – Preparação para a batalha

Vi o Capitão subindo as escadas para chegar ao alto da torre. Negou minha ajuda, já estava com uma besta de mão pendurada nos ombros, e se escorava na parede para conseguir andar. Quando viu com seus próprios olhos a situação disse o pior palavrão que conhecia. Esperávamos suas ordens. Ele olhou em volta, estudou a situação. Os inimigos nos cercavam e preparavam uma formação para iniciar a marcha.

— Eles não tem bandeira — começou a dizer o Capitão se escorando em uma das colunas do alto da torre. — Pode ser um exército de mercenários. Mas por que Jundorn os contratariam? Eles não teriam forças nem audácia para nos atacar assim. Pretendem avançar pelas nossas terras se aproveitando que essa é uma parte pouco fortificada do nosso reino. Malditos traidores — ele cuspiu no chão em repulsa.

— O que faremos, senhor? — perguntei.

— Vamos fazer esses malditos lembrarem da torre de vigia Aganon. Arvih reforce a porta. Coloque tudo que possa bloquear a entrada deles. — e ele saiu para cumprir a ordem do Capitão imediatamente. — Lyunis, prepare o óleo quente e as flechas incendiárias. Vamos aquecer esses malditos e rezar para não chover.

— Não seria melhor a gente fugir? — propôs o cozinheiro.

— Eles tem cavalos — disse o Capitão sem precisar olhar para a formação inimiga. — Vá rápido e volte com baldes de óleo. Vamos fazer o possível para manter eles afastados.

— Sim, Capitão — respondeu ele contrariado.

— Iori, pegue todas as aljavas que conseguir e posicione em todos os pontos da torre. Espere o óleo e se prepare — Iori desceu para pegar as aljavas, ficavam um lance de escadas a baixo de onde estávamos.

— Garoto, ajude Arvih a bloquear a porta. Mas antes de ir, me diga: Eu vi mesmo a nossa ave mensageira ser abatida?

— Sim, senhor. Eles estão vindo de todos os lados e devem estar posicionados no meio da floresta.

— Me diga, o que vê? Como está a formação deles? — ele não conseguia ficar de pé, estava encostado na coluna pegando fôlego e armando sua besta.

— Parece que estão esperando alguma coisa. Estão se espalhando, mas sem pressa.

— Querem ter certeza que não vamos fugir. Esses miseráveis sabem o que estão fazendo. Tenho certeza que eles não vão fazer um cerco. Para eles é necessário que tudo acabe essa noite, ou eles vão perder todo a vantagem da surpresa para o próximo ataque. Na cabeça deles, a gente é apenas um pequeno obstáculo. Por isso precisamos de fogo, é a alternativa que temos de avisar do ataque. Uma distância de cinco dias… Vamos precisar de muito fogo, e a noite não nos ajuda.

— O que me preocupa é esse vento úmido. Pode chover a qualquer momento.

— Pode ser isso que eles estejam esperando. O que vê?

— Ainda estão entrando em formação. Mais alguns saíram de dentro da floresta. Me parece que agora estão em pelo menos cento e cinquenta. Consigo ver dez a cavalo. Arqueiros ao norte. Estão em maior número no norte.

— Pelo visto querem atrair nossa atenção para um lado, na direção contrária do nosso portão. Vá ajudar Arvih, faça o portão ficar intransponível e prepare baldes de água. Fale para Arvih cuidar do portão e depois você volte aqui, e espero que tenha boa pontaria — ele tossiu e eu o deixei no alto da torre.

Iori subia com o maior número de aljavas que conseguia carregar. Lyunis posicionava o óleo quente no alto da porta, era a única entrada. Separou baldes com o óleo que sobrou. Carregava vasilhas de vidro. Subia e descia as escadas correndo para conseguir levar tudo. Arvih já havia colocado todos os armários que encontro na frente do portão. O ajudei a colocar mesas e cadeiras. Meu coração estava disparado, rezava para ser o suficiente. Arvih posicionou lanças pertos onde ficaria, eu o vi treinando bastante arremesso de lança, seria muito útil se fosse aberta qualquer brecha na porta. Preparei balde com água, o fogo era outra preocupação. Tive a ideia de já jogar alguns balde d’água para dificultar a madeira de pegar fogo, era melhor prevenir o quanto desse.

Após terminar de ajudar Arvih, subi ajudando Lyunis com os baldes de óleo. No alto da torre vi que os inimigos começavam a avançar. Demoraria um pouco para chegar por causa da vasta planície que nos separavam. O Capitão enchia as vasilhas de vidro com óleo e Iori arremessava a uma distância que considerava segura. Repetiam a ação circulando toda a torre com uma linha de óleo.

Eu, Lyunis, Iori e o Capitão preparamos nossas armas. Nos vestimos com uma cota de malha e a parte de cima de uma armadura. Cingimos nossas cinturas com uma espada e nos preparamos para o ataque. Iori esperaria eles se aproximarem para acender o óleo. As ordens do Capitão era para atacar livremente quando eles estiverem no alcance e não deixar ninguém chegar ao portão.

E assim esperamos eles se aproximarem. Eu estava tenso, era minha primeira batalha, e logo uma tão desfavorável. Minhas mãos tremiam e eu tentava desfaçar. O início da luta estava cada vez mais próximo. O vento soprava frio e eu suava. Não queria que fosse o fim.

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Sinopse

Lenna, uma renomada caçadora de titãs, com sua companhia, é enviada para investigar uma cidade em ruínas que dizem ter sido devastada por um ataque de titã. Após uma batalha noturna, sua vida corre perigo e precisa contar com a ajuda de um jovem misterioso para sobreviver.

A Era dos Titãs

Guilherme Orbe

Desenhista, escritor e sonhador. Comecei a criar histórias na infância e nunca mais parei. No começo me dediquei as histórias em quadrinhos, onde desenvolvi minhas habilidades de desenho. Hoje me dedico a literatura, e transformo minhas histórias em livros. Criar histórias é meu passatempo favorito.

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