as crônicas do sonhador
Crônicas de um Sonhador

As Crônicas do Sonhador | Capítulo 5: Mais que uma chuva de verão

O sábado iniciou bem. Era o dia do início das atividades do jornal da escola. Minha chance de me aproximar de Ester. Havia programado meus assuntos para caso ficasse travado, como costumava ficar. Julia me acompanhava, estava mais tranquila quanto a preocupação, sabia que não seria a última vez que faria esse tipo de investigação.

Ester comandava as atividades, um professor supervisionava, mas a proposta do jornal era que fosse de responsabilidade dos alunos em todas as partes do processo editorial e a publicação seria online. O site já estava em construção, havia alunos que entendiam de programação e se voluntariaram a fazer a tarefa. Julia ficou responsável pelas revisões, algo que sabia fazer muito bem, revisava meus textos com muita eficiência. Voluntariei-me para ser um repórter, a função que melhor me encaixava.

Foi uma manhã de reunião de preparação, definimos os assuntos a serem tratados, não havia muitos alunos, éramos sete ao todo. Dois eram responsáveis pela estrutura do site e manutenção, Jonas e Mario eram seus nomes; Ester a editora chefe e também repórter, eu era repórter junto com mais uma aluna que se chamava Laura; Tales era responsável pelas ilustrações e tirinhas e Julia a revisora.

Conhecia seus rostos de vista, mas nunca havia trocado nenhuma palavra com os outros integrantes do jornal, estavam animados, com exceção da minha amiga, mas ela disfarçava bem.

As atividades terminaram no fim da manhã. Chovia de forma moderada. Julia abriu seu guarda-chuva e me desejou boa sorte antes de ir para casa. Os integrantes do jornal seguiam seus rumos e Ester arrumava a sala para ficar tudo em ordem.

— Que droga, esqueci de trazer meu guarda-chuva — ela disse enquanto eu a ajudava a colocar uma mesa no lugar.

— Se quiser eu posso te dar uma carona no meu guarda-chuva — disse sem muitas esperanças que daria certo.

— Obrigada! Vou aceitar.

Fiquei surpreso, achei que não seria tão fácil. Ela morava próximo da escola, uma caminhada moderada de uns dez minutos, mas tinha um pequeno detalhe que não levei em consideração, eu não tinha guarda-chuva. Fingi que iria ao banheiro para criar um guarda-chuva com meus poderes. Estava um pouco ansioso, minhas primeiras tentativas falharam. Concentrei, vi imagens na internet e comecei a criar da melhor forma que conseguia. O guarda-chuva se formou, era grande, o suficiente para nós dois, mas não tanto porque queria que ela ficasse próxima de mim. Voltei e Ester me esperava na porta olhando para a chuva.

— Mas você não mora para outra direção? — ela perguntou.

— Eu preciso fazer um favor para a minha mãe e é um pouco depois da sua casa — a mentira foi rápida e soou natural. — Aí o caminho que eu seguir não vai fazer tanta diferença.

— Então vamos — ela segurou meu braço com um toque suave. Estava cheirosa e bela como sempre.

Seguimos caminhando conversando sobre assuntos que havia planejado, mas sentia que duraria pouco. Olhei para o céu e tive uma ideia arriscada. Ouvia a voz suave dela, estava animada, uma das qualidades que mais me encantava nela era seu bom humor e alegria natural, uma luz por onde passava.

Queria ter mais tempo para aproveitar e comecei a imaginar uma chuva mais forte. Imaginei como seria ter que parar em uma cabana abandonada para se proteger da chuva ao lado dela e desejei isso. Olhei para o céu e nuvens carregadas começaram a se formar.

A chuva intensificou-se ao ponto de não mais ser possível caminhar sem ficar encharcado. Paramos em uma marquise elevada de um bar abandonado, o telhado nos protegeria da chuva que ficava cada vez mais forte. Era como nos filmes clichês, abrigados da tempestade tinha uma chance.

Estava feliz por saber que meus poderes não se resumiam a objetos, porém, preocupado porque que a chuva ficava cada vez mais. Ester segurava forte meu braço, preocupada, senti o calor de seu corpo, encostou sua cabeça em meu ombro e senti o cheiro agradável de seus cabelos loiros ondulados. Estávamos na metade do caminho e um rio começou a se formar na nossa frente.

— Estou ficando preocupada.

— Deve ser apenas uma chuva de verão, daquela que chove forte e depois para.

— Não parecia que ia chover tanto assim, que esquisito.

A cidade não possuía boas estruturas de saneamento. Os bueiros não demoraram para transbordar. Pontos de alagamentos começaram a surgir e não demorou muito para não ser mais possível ver a rua, era somente água que descia com uma forte correnteza. E a chuva continuava a se intensificar. Havia errado nos cálculos e estava começando a ficar perigoso.

— Só nos resta esperar — comentei. — Estamos em um lugar elevado, a água não vai chegar até aqui.

— Assim espero porque eu não sei nadar — ela riu.

— Não se preocupe porque eu dou um jeito.

— Ah, vai ter que me carregar.

Começamos a brincar com a situação e percebi que meus assuntos que havia preparado estavam acabando e minha timidez começava a me assombrar.

— Obrigada por entrar no jornal — ela começou a dizer. — Sabe, eu achei que ninguém fosse querer, pelo menos ninguém conhecido. Que bom que você entrou, assim tenho alguém com quem eu possa contar.

— Eu que agradeço. Foi uma ideia muito interessante. Bem inteligente da sua parte, a escola estava precisando de algo assim.

— Não exagera, não sou nada inteligente, só queria mesmo fazer parte de um jornal mesmo.

— Eu te acho inteligente.

— Acho que só você mesmo. Todos me acham meio burrinha, sabe — ela segurou uma mecha de seu cabelo loiro como se explicasse o motivo.

— Eu discordo. Você sabe lidar muito bem com as pessoas e isso é um tipo de inteligência.

— Já na Matemática sou uma negação — ela riu. — lembra do primeiro ano? Só passei porque você me ajudou a entender a matéria. Se não fosse você eu não conseguiria.

Lembrava com muita clareza, foi o momento que mais fiquei próximo dela e foi quando minha paixão floresceu com mais força.

— Também não sabia muito.

— Mesmo assim já era muito mais que eu.

— No segundo ano você me ajudou muito em Biologia, Química, Física… nem sei como passei. Pena que você não está na mesma sala que eu, não sei como vou passar esse ano.

— Para de bobeira.

— É sério, Junior.

— Nós estamos em salas separadas, mas a matéria é a mesma, se quiser posso continuar te ajudando.

— Combinado!

Ela me abraçou e ficou em meus braços por um tempo. A chuva trazia consigo um vento frio e foi a forma de nos esquentarmos um pouco. Eu não precisava de mais nada, ficaria daquela forma para sempre, sei que é um exagero de um apaixonado, mas eu queria aproveitar ao máximo o momento. Ela encostou as costas em meu peito e eu continuei a abraçá-la. Ester olhava a chuva preocupada. A intensidade diminuía, mas o nível da correnteza subia. Nesse ritmo não demoraria muito para nos alcançar. Vi móveis sendo carregados pela água, carros ficando submersos nas ruas mais baixas. De onde estamos, uma subida leve, conseguíamos ver algumas ruas mais distantes. Uma culpa começou a crescer em mim, mas era doce ao sentir o calor do corpo de Ester. Assim ficamos até a água baixar, para nossa sorte a correnteza não nos alcançou. Conversamos sobre muitas coisas, ela sempre foi falante e para um introvertido é perfeito.

A rua estava cheia de lama, o asfalto cedeu em algumas partes. Caminhávamos em direção a casa de Ester e víamos pessoas tirando água de suas casas com baldes, móveis encharcados sendo descartados. Era uma região humilde e a culpa começou a me consumir. Precisava compensar o que tinha feito como meu egoísmo e irresponsabilidade.

— Finalmente cheguei em casa — ela disse quando avistou sua mãe no portão. A região por ser mais alta não sofreu muito.

— Depois tenho que te levar em um lugar legal para compensar esse susto.

— Amanhã à noite sem falta — ela disse beijando meu rosto.

Despedi-me de Ester e segui rumo à minha casa pensando em tudo que aconteceu. Tudo deu tão certo e tão errado ao mesmo tempo.

Próximo

Capítulos

APRENDA A DESENHAR seus personagens de ANIMES favoritos

E se... what if

Método Fanart 3.0

Aprenda com um método passo a passo completo.

Aplicando o método fanart você será capaz de:

  • Pegar uma folha, um lápis e desenhar qualquer personagem de anime em poucos minutos.
  • Entender a estrutura usada pelos criadores dos personagens para desenhar de forma perfeita.
  • Ter a habilidade de desenhar em poucas semanas, diferentes de escolas tradicionais que demoram anos.

Talvez pense que aprender a desenhar seja algo muito difícil,

Mas é perfeitamente possível alcançar um nível profissional e fazer desenhos incríveis seguindo um método eficiente.

Clique agora para saber mais detalhes.

Guilherme Orbe

Desenhista, escritor e sonhador. Comecei a criar histórias na infância e nunca mais parei. No começo me dediquei as histórias em quadrinhos, onde desenvolvi minhas habilidades de desenho. Hoje me dedico a literatura, e transformo minhas histórias em livros. Criar histórias é meu passatempo favorito.

2 Comentários

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *