Admirável Mehra (1º ERA),  Histórias

Minha Liberdade | Contos da Admirável Mehra | 1º ERA

Caminhava pela criação de Mehra. As árvores frondosas balançavam com o vento, não muito distante escutava as ondas do mar.

Criaturas únicas de sua espécie passeavam em paz. Eram de todos os tipos, algumas eram maiores que qualquer árvore, outras chegavam a ser tão altas quanto montanhas. Seus aspectos eram de feras, mas não havia nada que perturbasse sua paz. As criaturas aladas sobrevoavam as planícies verdejantes, suas cores variavam de tons vibrantes a mais discretos. Suas asas longas capazes de suportar seus pesos batiam com suavidade. Era um mundo sem mácula até aquele momento.

Continuava minha exploração habitual, tudo era novo para mim, e essas terras nunca cansaram de me surpreender. Experimentava das frutas mais doces até as mais amargas, e em uma manhã encontrei uma caverna. Já havia explorado outras, mas algo nessa me chamou a atenção. Não pude conter meu impulso de entrar, mesmo algo em meu interior me alertando a não ir. A caverna era úmida, menos escura que a maioria. Sua abertura era larga e suas pedras negras me guiavam na única direção possível, que me levava a tão fundo que não imaginei que poderia chegar.

No fim da caverna encontrei um espaço amplo e uma criatura acorrentada no centro. Era um ser horrendo, pelos espessos e negros tentavam esconder seu corpo formado por pedras. Seu tamanho era como uma montanha, não conseguia enxergar seu fim. Na altura dos meus olhos estava sua cabeça bestial, quase tão grande quanto a clareira. Seus braços longos esticados na altura dos ombros estavam acorrentados a parede da caverna. Seus olhos se abriram e olharam diretamente para mim. E pela primeira vez eu senti o que pode ser chamado de medo.

— Quem és? — perguntou a criatura estendendo a palavra.

— A muito tempo meu criador me chamou de Sentinela. E quem é você e quem te prendeu aqui?

— Foi tudo um grande engano. Seres da minha espécie me traíram e me prenderam aqui. Tiveram medo de mim.

— E porque eles teriam medo?

— Sou poderoso, ah como sou. Temiam que eu dominaria tudo, mas eu não quero. Só quero ser mais uma vez livre.

Pensei por um momento na situação e a criatura continuou:

— Não temas. Não sou mal. Há quem diga que eu sou terrível, mas não é a verdade. Só desejo a liberdade. Só quero que o mundo seja um lugar onde todos façam o que querem. O que há de mal neste desejo? Não é ruim quando te impedem de fazer o que quer? Diga-me pequeno ser.

— Nunca me impediram, eu faço o que quero, vou onde desejo.

— Ainda não. Mas quando crescer te dirão o que fazer ou para onde ir. Vão dizer o que é certo ou errado, e você vai precisar seguir como um animal de estimação. Sua liberdade será sugada, seus desejos reprimidos. Tudo em nome da paz. Mas o que é a paz senão a vontade dos que mandam. Nunca será liberdade se você não puder fazer o que quer.

Nunca havia pensado sobre o assunto. Liberdade… paz… não compreendia o real sentidos dessas palavras.

— Os seres precisam ser livres — a criatura continuou. — Não concorda? Pequeno.

— Mas e se em sua liberdade quiserem fazer algo mal?

— Mal… bem… quem diz o que é mal? É um ato bom privar alguém de sua liberdade? Pequeno, é assim que vão te controlar. Quem pode ter o poder de te impedir de fazer o que quer? Ninguém poderá te controlar. Eu jamais permitiria. E por isso estou aqui, porque quero a sua liberdade.

Pensava a respeito, mas não encontrava respostas. Nunca havia pensado sobre a minha liberdade, e muito menos sobre perde-la.

— Seu criador fez esse mundo para que todos os seres sejam livres não é? Porque sou o único cativo? Não é justiça quando apenas um sofre a pena. Pequeno ser, me ajude.

— E como poderia ajudar?

— Liberte-me. E prometo que ninguém mais vai tirar sua liberdade de fazer o que quiser. Nunca vão te falar o que você deve fazer. Será livre como nunca antes foi.

— Não sei como te libertar.

— Você só precisa concordar e estarei livre.

Concordei em meus pensamentos e as correntes se desfizeram e a criatura rugiu em alegria e revelou um sorriso sombrio. Nesta época eu era muito ingênuo para entender o erro terrível que cometi.

A criatura me olhou e meu peito doeu. Uma ferida profunda rasgou meu torço, mas não sangrou.

— Essa é a minha marca, e assim será feita a minha liberdade em você.

A marca doía como pontadas profundas na minha carne. Uma angustia dominou meu ser, não entendia o que estava acontecendo, mas não era bom. Senti que algo mudou em mim, e não me senti mais livre, aconteceu o estremo oposto, aquele momento foi quando minha paz se desfez.

A besta caminhou em direção a saída e eu cambaleava sem forças a seguindo. Quando saiu da caverna, mesmo distante eu escutava sons de agonias e dor. Tudo estava mais agitado, e a constante paz em Mehra foi quebrada. E foi quando descobri o que não era liberdade.

Contos da Admirável Mehra

Liberdade

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Sinopse

Lenna, uma renomada caçadora de titãs, com sua companhia, é enviada para investigar uma cidade em ruínas que dizem ter sido devastada por um ataque de titã. Após uma batalha noturna, sua vida corre perigo e precisa contar com a ajuda de um jovem misterioso para sobreviver.

A Era dos Titãs

Guilherme Orbe

Desenhista, escritor e sonhador. Comecei a criar histórias na infância e nunca mais parei. No começo me dediquei as histórias em quadrinhos, onde desenvolvi minhas habilidades de desenho. Hoje me dedico a literatura, e transformo minhas histórias em livros. Criar histórias é meu passatempo favorito.

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