O Pirata da Água Doce | Conto
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O Pirata da Água Doce | Conto

Você já ouviu falar da terrível lenda do pirata da água doce?

Um homem terrível, assustador. Não foram muitas pessoas que o viram e saíram com vida, e aqueles que sobreviveram, dizem, que ficaram loucas. Dizem que ele caça os desavisados que pescam no lago Branco. A névoa constante do lugar é criada pelo pirata e obedece as ordens dele. Nos dias frios como esse é quando ele gosta de agir. Nunca ninguém que amanheceu perto do lago voltou para contar o que aconteceu.

— Estou ficando com medo — disse o pequeno Bruno que se tremia de frio e de medo. — Acho melhor a gente voltar para casa, você não acham?

— Para com isso seu medroso! — Exclamou Fábio.

Era um pouco mais velho que seu amigo, não tinha mais de 12 anos na ocasião. Também ouvia atentamente a história do líder da expedição corajosa e irresponsável de amigos. Daniel, era quem contava as histórias, era o mais velho e sempre dizia que já tinha 13 anos e não tinha medo de nada.

— Mas já vai ficar escuro e não é legal ficar perto do lago — insistiu Bruno.

— Ah, para de ser medroso Bruninho — desdenhou Fábio. — está acreditando nessa bobeira. Daniel está inventando essa história agora. Deixa de ser bobo.

— Você acha mesmo que estou inventando? — Daniel começou a dizer. — Lembra do velho Raul? Onde está ele?

— sei lá!

— Desapareceu. E onde ele foi visto por último? Aqui neste lago.

— Não acredito nisso.

— E a Dona Ivone que disse que viu um vulto estranho no meio do lago? Ficava se movendo, parecia um barco preto. Ela é religiosa e ela não mente.

— Melhor a gente ir pra casa. Minha mãe acho que está me chamando. Ela disse para não ficar perto do lago a noite.

— Sim, e ela tem razão, o lago é perigoso. Sabe por quê? Por causa do Pirata da Água Doce.

— Olha que nome ridículo. Você já foi mais original, Daniel.

— Se você duvida tanto, Fábio, porque não entramos no lago e vamos ver com os nossos próprios olhos?

— Eu não vou.

— Olha que medroso — disse Fábio rindo do amigo.

— Não sou medroso, só acho que minha mãe vai me deixar de castigo.

— Vai ser rápido. Eu falo com a sua mãe depois, Bruninho.

— Daniel… Mas e esse pirata?

— É brincadeira. Mas eu não inventei. Eu ouvi do seu Tião. Queria saber se é verdade mesmo.

A contragosto, Bruno se juntou aos seus amigos e os três meninos entraram em um pequeno barco pesqueiro. Não sabiam muito bem como maneja-lo e balançavam bastante com a água inquieta. A neblina não permitiam que vissem um palmo a frente. Avançavam e perderam a noção de qual direção saíram. Bruno estava com ainda mais medo. Fábio estava confiante, porque achava que sabia como fazer para voltar. Daniel, que se dizia o capitão do barco, fingia que sabia o que estava fazendo, mas estava tão perdido quando os outros.

— Acho melhor a gente voltar.

Bruno dizia sentindo frio e perceberam que já estava a noite.

— Já está chato mesmo, vamos voltar — Daniel começava a ficar receoso, principalmente porque não fazia ideia de onde estava indo.

Fábio dizia com certeza a direção que saiam, mas remavam por horas e nunca chegavam a margem. Seus medos afloraram. Não conversavam por causa da tensão que sentiam. A neblina serrada impedia de qualquer tentativa de navegação. Começaram a gritar pedindo socorro, mas ninguém respondia. E o medo aumentava. Até mesmo Fábio, o mais confiante, estava tremendo tanto de medo quanto de frio.

Porém, mesmo na neblina, conseguiram ver uma silhueta se aproximando. Fábio respirou aliviado, mas Bruno falou junto de Daniel.

— O Pirata de Água Doce!

O Pirata da Água Doce

Os dois começaram a remar na direção contrária da silhueta e Fábio reclamava.

— Estão doidos? É a nossa ajuda.

Começaram e disputar os remos. Daniel lutava para remar na direção oposta e Fábio tentava tirar o remo de suas mãos. Bruno chorava de agonia, paralisado de terror. A disputa pelo remo crescia e o barco pequeno balançava. Daniel ganhou a disputa pelo único remo, mas seu movimento brusco o fez desequilibrar e cair no lago. O menino se debateu na água gelada, mas não sabia nadar. Seus amigos tentavam o ajudar, mas a água agitada os empurravam para distante do amigo que desapareceu na neblina e apenas seus gritos abafados pela água podiam ser ouvidos, até ele silenciar.

Os dois que permaneciam no barco não sabiam o que fazer, não conseguiam ver mais a silhueta, suas visões estavam turvas com as lágrimas. Gritavam o nome do amigo, mas não ouviam resposta. Minutos de desespero passaram, sentados no barco não sabiam como reagir. Quando sentiram algo bater na lateral do barco quase os jogando na água. Era uma embarcação improvisada de madeira velha. Da visão deles parecia um navio pirata assombrado e dá proa uma figura apareceu. Tinha cabelos e barbas desgrenhadas e longas.

— O pirata! — gritou Bruno se desequilibrando de medo e caindo na água.

O menino se debatia até perder o fôlego e tudo escurecer.

O Pirata da Água Doce

— Finalmente acordou — Bruno escutou a voz de Fábio.

— Onde estou?

— Em um barco pirata — disse o menino animado.

Bruno olhou em volta e mais parecia uma casa velha. Mas o balanço do lago deixava claro que ainda não estavam em terra firme.

— Finalmente. Estava preocupado — disse Daniel se aproximando.

Bruno começou a chorar e correu para abraçar o amigo.

— Você não morreu?

— Não seu bobo. O velho Tobias me salvou.

— O pirata — completou Fábio.

Bruno tentava assimilar a informação quando o velho Tobias entrou.

— Seus moleques irresponsáveis — disse ele seguindo de uma tosse carregada. — Mais um pouco e essa peste iria se afogar.

— Ele me salvou — disse Daniel sorrindo de forma travessa.

— Não é nada engraçado. Aqui não é lugar para travessuras.

— Você é um pirata? — perguntou Bruno com inocência.

— Claro que não. Pare de falar besteiras.

— Porque vive aqui então?

Tobias ficou em silêncio e observava os olhares dos meninos e percebeu que não se livraria facilmente de perguntas.

— Se eu responder vocês vão sumir daqui?

— Cla-claro — Bruno estava aliviado.

— Não sei fazer muitas coisas além de pescar. Não tenho dinheiro para comprar uma casa na cidade. E aqui… aqui que vivia com minha falecida esposa, mas vocês são crianças demais para entender.

— Ei, já tenho 13 anos! — protestou Daniel.

— E nem sabe nadar — cuspiu no chão Tobias.

Fábio e Bruno riram do amigo e logo Daniel acompanhou a gargalhada.

— Estou aqui a tanto tempo que nem lembro como é morar em uma casa na terra. Aqui tenho tudo que preciso.

Era um barco adaptado para ser casa ou o oposto, não havia como ter certeza. Tobias levou os meninos para a margem do lago e fez eles jurarem que nunca mais voltariam. Eles confirmaram com a cabeça.

No dia seguinte, os três estavam na margem do lago procurando por Tobias. Gritaram tanto seu nome que ele não aguentou e apareceu com seu barco-casa. Eles queriam ouvir histórias do velho pescador. E assim Tobias fez. Fazia tempo que não conversava com alguém, sempre falava sozinho acreditando que sua esposa poderia ouvir de onde estava. Ali na margem ele contou suas histórias de pescador. Os três amigos achavam elas exageradas, mas engraçadas. No dia seguinte apareceram com mais amigos, e não demorou muito para outros da pequena cidade se aproximarem com curiosidade. O temível pirata da Água doce ficou popular e nunca mais se sentiu só. Continuou morando no lago, mas todas as manhãs as crianças, acompanhadas de alguns dos pais sentavam e escutavam suas histórias que em algum momento perceberam que não era possível elas serem reais, mas quem se importava, todos gostavam.

E essa é a história do nem tão terrível pirata da água doce.

Contos

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Sinopse

Lenna, uma renomada caçadora de titãs, com sua companhia, é enviada para investigar uma cidade em ruínas que dizem ter sido devastada por um ataque de titã. Após uma batalha noturna, sua vida corre perigo e precisa contar com a ajuda de um jovem misterioso para sobreviver.

A Era dos Titãs

Guilherme Orbe

Desenhista, escritor e sonhador. Comecei a criar histórias na infância e nunca mais parei. No começo me dediquei as histórias em quadrinhos, onde desenvolvi minhas habilidades de desenho. Hoje me dedico a literatura, e transformo minhas histórias em livros. Criar histórias é meu passatempo favorito.

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