A Última Jogada
A Última Jogada,  Histórias

01-02 – A Última Jogada | Os Bravos | SÉRIE

Daniela mal pegou a bola e com um drible de corpo passou do primeiro marcador, e pelo segundo com agilidade, arremessou com uma plástica perfeita e a bola carinhosamente deslizou pela rede da cesta.

— A escola devia criar um time de basquete feminino, porque esse masculino não está com nada — Arthur comentava com Daniela.

— Concordo que deveria ter um time feminino, mas você está errado sobre esses meninos. Eles só precisam de um empurrãozinho.

O ataque adversário foi parado por Big com um toco agressivo, a plateia aplaudiu de pé. Daniela conduziu a bola para um contra-ataque distribuindo a bola com velocidade. Ao receber de volta, passou sem olhar para Gringo que estava posicionado na lateral da quadra, pronto para um arremesso de 3 pontos. Acertou a cesta com tranquilidade e livre de marcação.

— Não somos tão ruins, sabe — começou a dizer Sid para mim ao perceber que eu estava atento a cada lance do jogo.

— Quem é ela? — quis saber.

— Nossa técnica e irmã do nosso melhor jogador.

— E quem seria esse jogador?

— Dante. Ele não veio para o colégio hoje, e não tenho certeza se ele participaria disso se estivesse aqui. Ele não é uma pessoa fácil de se lidar, sabe.

O jogo seguiu e Daniela conduziu o time para uma virada. Todos pareciam jogar melhor quando ela estava em quadra, jogavam mais dispostos, e não demorou para o encerramento do jogo com o placar de 12 a 8 para o time de basquete. Estavam aliviados por não terem perdidos, e felizes pelo entusiasmo da plateia com o jogo. Arthur e seus companheiros de futsal deixaram a quadra relutantes.

Os Bravos

— Você não quer entrar no time? — perguntou Sid. — Precisamos de novos jogadores, eu sou o único reserva. Torço todo jogo para que ninguém se machuque para eu não precisar jogar.

— Então por que continua no time?

— Eu gosto de basquete, mesmo sendo muito ruim. Eu gosto dos meus companheiros de time. Eu só não gosto de arquibancadas cheias.

— Entendo. Também não gostaria. Mas não sei se tenho condições de entrar no time. Eu não joguei muito basquete na vida.

— Não se preocupe. Acho difícil você ser pior que eu — Sid falou com a expressão séria, e eu achei engraçado, mas fiquei sem saber se poderia rir.

— Me desculpe, mas acho que não vai dar para participar. Desculpa mesmo.

— Tranquilo.  Se preocupa não — Sid deixava a arquibancada para se juntar novamente a seus amigos de time que voltavam a arremessar, mas dessa vez com as orientações de Daniela. Definiam o time para jogarem uma partida usando a metade da quadra, três contra três, e logo decidiram que Sid deveria ficar no mesmo time que Daniela, para ficar mais justo.

Ao final das aulas do dia fiquei surpreso quando encontrei meu pai em casa. Antes da separação de meus pais, encontrá-lo em casa era tão raro quanto ver os duendes no fim do arco-íris.

— Como foi na escola? — ele perguntou.

— Normal. Aulas, intervalos, essas coisas de sempre — eu respondi desconfortável. Não costumava trocar muitas palavras com meu pai.

— Gostou do novo colégio? É o melhor da região. Agora você vai ter futuro.

— Um pouco. Não teve trabalho hoje? — perguntei reparando que ele ainda estava de terno e sapato, como se estivesse pronto para sair ou acabado de chegar.

— Tive que passar rápido aqui para pegar umas coisas, mas já vou voltar. Se quiser, podemos jantar fora hoje.

— Não sei. Estou pensando em ir ao treino do time de basquete da escola.

— Pode esquecer! Você não veio aqui para perder tempo com essas bobagens! Não vai acontecer. Você veio para estudar para entrar em uma boa universidade, não para perder tempo.

— E eu vou estudar vinte e quatro horas por dia? Vou me alimentar de livros? Estou preso em regime fechado?

— Pela última vez! Você não vai entrar e ponto final.

— Engraçado. Você nunca quis saber o que eu fiz na vida, e agora quer impedir de fazer o que eu quero!

— Se for para ficar perdendo tempo ficava naquela roça! Essa é minha casa e aqui tem as minhas leis.

— Tudo bem, senhor advogado. Vou entrar com um pedido de habeas corpus.

— Não vou tolerar esse tipo de comportamento!

— Vai fazer o que, pai? Me mandar de volta para a roça? Se livra do problema! Não é isso que você sempre faz?

Eu não gostava de discussões, mas havia algo no meu pai que me irritava. Sempre foi ausente, e agora tentava ser pai. Saí de casa batendo a porta deixando ele falar sozinho. A voz que gritava ficava cada vez mais distante até desaparecer por completo, e segui para o mais distante que conseguia.

***

— Muito bem. Pelo visto não recebemos muitos membros novos — disse a treinadora Daniela parada diante do time. — Gabriel, esse é seu nome? Bem-vindo! Esse ano iniciaremos uma nova fase dos Bravos. Chegaremos ainda mais longe esse ano e conto com todos vocês para que isso aconteça. Eu acredito no potencial de cada um e sei que esse ano vamos melhorar muito.

— Vamos ganhar! — aplaudia Gringo provocando uma pequena bagunça entre seus companheiros.

— Silêncio, silêncio. Nossos horários de treino aumentaram.

— Ah não… — protestou Juan.

— Sim, e você vai adorar os treinos físicos que vamos fazer.

Os membros do time pareciam felizes com o reinício das atividades. Estavam os mesmos cinco que jogaram contra os desafiantes jogadores de futsal. Eu notei a ausência do que diziam ser o melhor jogador do time.

O treino começou com uma corrida em volta da quadra. Gringo e o capitão do time, Saulo, ditavam o ritmo e aos poucos se distanciavam dos outros. Eu e Juan tentávamos acompanhar, mas o ar começa a faltar, e o meu ritmo diminuía. Não estava habituado a fazer exercícios e correr, os dez minutos pareceram uma eternidade. Big e Sid resistiram pouco mais de cinco minutos e terminaram o percurso caminhando. Os exercícios físicos continuaram após a corrida. Flexões, abdominais, repetições de saltos, polichinelos, eram alternados e mudavam de acordo com o apito da treinadora. Não havia tempo para descansar.

— Meu Deus, eu tô morrendo! — reclamou Juan sem fôlego.

— Sem conversa, sem conversa! — Daniela soprava seu apito indicando que deveríamos mudar o exercício. — Vocês estão muito moles. Mais rápido!

— Treinadora, eu não aguento mais! — Sid foi o primeiro a cair.

Eu tentava permanecer firme no ritmo do time, mas já estava no limite das minhas forças, respirava com dificuldade, como se o ar estivesse relutante a preencher meus pulmões. Quando pensei em desistir a treinadora soprou seu apito indicando o términodos exercícios.

— Peguem as bolas. Linha de passes. Ensine o novato como que faz.

Não iria ser fácil…

O time se dividiu em duas linhas distantes de frente uma para a outra. Trocaram passes, eu tive dificuldade por causa da distância que precisava passar a bola, não conseguia passar nas mãos dos companheiros, faltava força e técnica. Não durou muito a troca de passes, e antes de qualquer pausa já havia mudado de treinamento para controle de bola. Já estava pingando de suor, minha camisa estava colada no meu corpo, encharcada, mas percebia que não era o único. Até mesmo os membros mais experientes estavam com dificuldades para manter o ritmo. Eu me esforçava para conseguir fazer bem os exercícios de drible, que é o termo usado no basquete para o ato de quicar a bola, mas a bola parecia não colaborar. Constantemente saia do meu controle e quicava para longe. O treino que costumava ter no antigo colégio na aula de educação física não se comparava a intensidade dos exercícios que estava fazendo naquela noite. Dei graças a Deus quando ouviu o apito da treinadora que indicava a hora de mudar de atividade.

Era hora do arremesso. Recebi as instruções básicas e rápidas de Gringo sobre como deveria arremessar. Deveria arremessar com a mão boa, a outra deveria servir como apoio na lateral da bola. Gringo fez o movimento ao meu lado alertando sobre a importância do pulso no momento de soltar a bola e que deveria segurá-la um pouco acima da cabeça. Os joelhos também eram importantes, o impulso deveria ser usado na mecânica do arremesso. O instrutor fez o movimento sem a bola com a maior perfeição que conseguia, tentei o imitar, mas a bola acertou a tabela com força, quicou no aro e se distanciou do alvo.

— Menos força — orientou Gringo acertando a cesta com um arremesso de exemplo.

Tentei outra vez com menos força e a bola acertou a parte da frente do aro e saiu.

— Muito bem, melhorou. Não se preocupe, daqui a pouco você vai acertar todas. Não se esqueça de jogar a bola de uma forma que ela faça um arco no ar — ele completou.

Foi organizada a fila para arremessar primeiro a curta distância. Apenas na sexta tentativa acertei minha primeira cesta. Os outros parecia não errar daquela distância com exceção de Sid que arremessava de uma forma atrapalhada e desengonçada, errava com a mesma frequência que eu. Big, com sua altura, parecia apenas deixar a bola deslizar pelo aro. Mesmo sendo jovem já possuía a altura de um jogador de basquete profissional. Nos arremessos de meia e longa distância as coisas mudaram. Big e Sid tiveram muita dificuldade para acertar. Notei que Gringo possuía o melhor aproveitamento principalmente quando a distância era maior. Saulo mantinham a média de a cada cinco arremessos acertava três, e Juan com a média um pouco a baixo.

Pararam os arremessos quando ouviram a porta do ginásio ser aberta de forma brusca, e um jovem alto vestido com uma jaqueta preta, headphone vermelho pendurado em seu pescoço, seu penteado moicano moderno de cor preta brilhava com as luzes dos refletores.

— Cheguei, seus podres! — Disse ele com os braços abertos e uma postura soberba.

Os Bravos

A Última Jogada | Capítulos

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Sinopse

Lenna, uma renomada caçadora de titãs, com sua companhia, é enviada para investigar uma cidade em ruínas que dizem ter sido devastada por um ataque de titã. Após uma batalha noturna, sua vida corre perigo e precisa contar com a ajuda de um jovem misterioso para sobreviver.

A Era dos Titãs

Guilherme Orbe

Desenhista, escritor e sonhador. Comecei a criar histórias na infância e nunca mais parei. No começo me dediquei as histórias em quadrinhos, onde desenvolvi minhas habilidades de desenho. Hoje me dedico a literatura, e transformo minhas histórias em livros. Criar histórias é meu passatempo favorito.

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