A Última Jogada,  Histórias

01-06 – A Última Jogada | Início do Jogo| SÉRIE

No início da manhã me encontrei com Daniela e meus companheiros de time na entrada do Colégio Salvador Rio-Bravo. Iríamos juntos para onde seria a partida.

— Onde está Dante? Ele não vai vir? — perguntou Juan a Daniela.

— Não sei. Ele saiu com uns amigos dele ontem e acabou não dormindo em casa. Não faço ideia de onde ele esteja. Não atende minhas ligações… só espero que ele não tenha feito nenhuma besteira!

— Muito irresponsável mesmo! — Falava Saulo como se fosse algo previsível.

— Não podemos esperar mais — começou a dizer a treinadora. — Ele sabe onde fica o ginásio que vamos jogar, ele vai dar um jeito de chegar se quiser. Espero que estejam todos preparados.

Com a confirmação dos jogadores, nos dirigimos até o local do amistoso. O trânsito estava normal de uma manhã de sábado, o tempo fresco. Chegamos ao destino com aproximadamente uma hora de viagem. Alguns aproveitaram o tempo para dormir. Eu observava a paisagem, mesmo não considerando bonito os amontoados de prédios. Sempre gostei de viajar na região onde morava, lá, eu observava a vegetação passando, e meus pensamentos se distanciavam. Mas com tantos prédios e barulhos da capital, mal conseguia fugir para os meus pensamentos.

Chegando ao Colégio Hermes Ribeiro, notamos que a escola estava movimentada, haveria mais de um evento naquele dia. Muitos alunos transitavam pelo pátio amplo. No ginásio a torcida já estava aquecida e ansiosa para o começo da partida. Um apresentador que praticava gritos de torcida com a multidão anunciou que os desafiantes haviam chegado e uma grande vaia se iniciou.

A atmosfera do lugar parecia um jogo de final. O time anfitrião, os Olimpus, já se aquecia na quadra. Já uniformizados com suas camisas azuis com detalhes amarelos. No short longo, asas do mensageiro dos deuses, que dava nome ao colégio, estavam nas laterais do uniforme. Todos pareciam confiantes, a torcida gritava seus nomes como se fossem jogadores famosos. Olimpus era o atual vice-campeão do intercolegial. Um time tradicional que sempre foi competitivo.

Fomos nos trocar para começar o aquecimento. No vestiário não parecíamos tão confiantes. Esperávamos contar com Dante, mas ele continuava não atendendo as ligações da irmã. Saulo tentava animar o time com palavras firmes. Daniela revisava as táticas treinadas.

Quando iniciamos o aquecimento com a bola uma nova vaia se dirigiu para nós. A torcida tentava abalar nosso espírito, e para Sid não precisaria tanto esforço para isso. Big, Gringo e Juan não pareciam se abalar muito com toda a torcida contra eles. Saulo mantinha-se firme. Eu tentava esconder minha insegurança, mas não conseguia deixar de olhar para a torcida gritando vaias.

— Não liga para a torcida — disse Daniela se aproximando. — Eles só querem te abalar.

— É que não estou acostumado com essas coisas.

— No começo é assim mesmo. Mas quando começar o jogo você vai relaxar.

As palavras me animaram. Com a ausência de Dante, a chance de começar jogando eram muito altas. Daniela reuniu o time para as últimas orientações antes de começar o jogo, foi quando vimos Dante entrar no ginásio.

— Não acredito que iam começar sem mim! — ele disse e me incomodei com seu tom sínico.

Juan respirou com alívio enquanto Saulo mostrava uma expressão dura.

— Prestem atenção em quem vai começar jogando — começou a dizer a treinadora. — No pivô Big, na ala de força Saulo, na armação Juan, na ala direita Gringo e na esquerda Gabriel.

— O quê? — Dante se surpreendeu ao perceber que estava na reserva. — Eu não vou começar jogando?

— Não! Se aqueça e tente não se atrasar da próxima vez.

Dante se recusou a aquecer e sentou na arquibancada após trocar de roupa.

Pisei na quadra, estava próximo de começar o jogo. Ficaria na ala esquerda, exatamente do lado que a torcida estava. Buscava confiança, imaginava fazendo grandes jogadas naintenção de me concentrar melhor. Respirava fundo olhando para o uniforme dos Bravos. Meu número era o nove. E pela primeira vez me senti preparado para jogar.

O jogo começou com o time adversário ganhando a posse de bola. O armador dos Olimpus recebeu a bola e orientava seus companheiros enquanto a arquibancada gritava seu nome de forma ritmada. João Pedro era seu nome.

O armador driblava com agilidade, quicava a bola por entre as pernas, brincava para a torcida gritar com mais força. Era um pouco mais alto que Juan, possuía olhos espertos e um sorriso largo.

Após uma troca de passes bem feita, o capitão do Olimpus fez os primeiros pontos da partida com uma enterrada firme. E a torcida comemorou gritando seu nome.

Jogo

— NIKO!

O capitão, aclamado como astro do time, batia no peito e urrava em sua comemoração.

Os Bravos avançaram para um ataque, a bola passou nas mãos dos jogadores até chegar a mim. Recebi a bola e a segurei, não soube o que fazer, como se minha visão estivesse focada em único ponto. Não encontrei nenhum companheiro de time e fui desarmado. O Olimpus em um contra-ataque rápido marcou mais dois pontos. A partida seguiu e sempre que chegavaàs minhas mãos o ataque parava e os jogadores adversários perceberam minha inexperiência e me marcavam firme. Quando tentava passar era interceptado. A torcida zombava. Mesmo com companheiros começando a evitar a me passar a bola, não conseguíamos evitar a distância no placar aumentar cada vez mais.

OLIMPUS 12 – 0 BRAVOS

Daniela pediu seu primeiro tempo para acalmar os jogadores. Havia passado três minutos de partida e parecia que o time não estava em quadra. Digo principalmente por mim. Minhas mãos tremiam.

— O que está acontecendo? — ela perguntou irritada. — Treinamos para isso? Isso não é tudo que vocês sabem fazer! Respirem, se acalmem. Eles estão marcando firme para forçar nosso erro e estão conseguindo. Saulo, faça o bloqueio para Gringo arremessar. Big, o garrafão é seu, se imponha. Juan, não force jogadas. Gabriel, respire! Faça passes fáceis e curtos.

— Eu vou jogar! — disse Dante se preparando para entrar em quadra.

— Negativo! — corrigiu a treinadora. — Gabriel continua.

— Estão sendo massacrados! Ele nem sabe jogar.

— Eu sei o que estou fazendo. Não é a hora de você jogar.

Dante se irritou e voltou a sentar no banco de reservas, o mais distante possível que conseguiu de sua irmã que o olhava com uma expressão séria.

O jogo recomeçou com Gringo fazendo uma cesta após Saulo bloquear o adversário com seu corpo, deixando Gringo livre para arremessar. Os Bravos voltaram mais calmos e a partida igualou em termos técnicos, mas a vantagem no placar continuava para o time adversário. Recebi a bola, e pela primeira vez soube o que fazer, devolvi para Juan que armou uma jogada para Big concluir. Com muito custoàs cestas começaram a aparecer e o primeiro quarto terminou. E eu fiquei aliviado.

OLIMPUS 18 – 9 BRAVOS

— Eu vou jogar!

— Ainda não — Dante foi barrado novamente por Daniela. — Vai voltar o mesmo time.

— Quando que vou jogar? Vou ficar assistindo! Sou plateia agora?

— Fique quieto Dan! — disse a treinadora sem paciência. — Quer começar jogando chega cedo aos treinos e nas partidas.

— Então se perderem não me culpe. Sou o melhor, mas não faço milagre.

— Fica quieto, fica!

O segundo quarto iniciou no mesmo ritmo que terminou o anterior. Eu não conseguia ser muito útil no ataque, mas na defesa me doava mais que qualquer um.

OLIMPUS 27 – 14 BRAVOS

O armador do time adversário avançava com a bola para o ataque. Niko se desmarcava da dura defesa de Saulo, e foi em minha direção. Recebeu a bola e driblou rápido, mas de alguma forma eu consegui acompanhar, me esforcei para tocar na bola, mas não consegui o desarmar, ele passou de costas para outro jogador que fez uma cesta de três pontos.

Todos os ataques deles costumavam vir na minha direção, era visto como o elo fraco do time. Marcar o capitão do time adversário não era fácil, ele era quase tão bom quanto Dante, era mais lento, mas um pouco mais alto. Em muitas vezes ele alternava jogadas com o armador na minha ala. Saulo me ajudava na defesa, porém, não era o suficiente.

No ataque eu continuava perdendo a posse de bola por causa da marcação pesada que faziam contra mim. Em um desses erros, eu voltei com o máximo de velocidade que conseguia e consegui roubar a bola. Já estava esgotado, minhas pernas não me obedeciam direito. Evitava avançar para o ataque, me concentrava na defesa e senti que eles tinham mais dificuldade para passar por mim. Eu melhorava pouco a pouco. Me doava de uma forma que nunca havia me doado antes. Meu time comemorou quando eu consegui roubar a bola do astro do time adversário, e passei certo para o contra-ataque de Juan que fez uma bela cesta, deixando a torcida em silêncio por um breve momento.

— Não os deixe fazerem essa cesta! — gritou o capitão, animado.

O espírito do time estava revigorado com a última cesta e conseguimos igualar o jogo, e diminuímos a vantagem deles.

OLIMPUS 35 – 22 BRAVOS

O jogo seguiu com ataques rápidos e eficientes dos dois lados. Eu já não aguentava mais, sentia minhas pernas tremerem, resistia de teimosia.

— Ei! Novato, não está escutando? — Juan chamava minha atenção, estava tão imerso no jogo que não havia percebido que Daniela estava me substituindo.

Olhei para o banco de reservas e Dante estava de pé alongando. Eu o olhei e ele me ignorou.

— É hora de ensinar como que se joga! — ele disse entrando em quadra sob uma forte vaia.

Jogo

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Guilherme Orbe

Desenhista, escritor e sonhador. Comecei a criar histórias na infância e nunca mais parei. No começo me dediquei as histórias em quadrinhos, onde desenvolvi minhas habilidades de desenho. Hoje me dedico a literatura, e transformo minhas histórias em livros. Criar histórias é meu passatempo favorito.

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