Memórias de um Soldado
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Memórias de um Soldado #4: Mau presságio

Hoje acordamos com uma visita. Um senhor caçador, Bony é seu nome. Veio nos trazer alguns animais que caçou e remédios. Contaram que ele aparecia as vezes para conversar. Bony era robusto, já bem grisalho, e idoso. Vivia com sua esposa em uma cabana não muito longe da torre. Na sua juventude ele foi um soldado, de alguma forma ele ia visitar a torre para lembrar de sua época.

— Senhor Bony! — gritou Lyunis animado. Era a primeira vez que o via de tão bom-humor.

— Como estão esses valentes soldados?

— Entediados… entediados… — respondeu Iori se aproximando.

Arvih estava de vigília e eu me prontifiquei para ajudar a carregar a caça. Lyunis parecia faminto e estranhamente animado.

Me apresentei ao senhor e conversamos um pouco enquanto Lyunis preparava um banquete. O Capitão saiu de seu quarto para falar com Bony e sentou em volta da fogueira. Estava um pouco frio e estávamos no melhor lugar para se estar. O cheiro da carne sendo assada já me fazia salivar. Lyunis era rabugento e mal humorado, mas cozinhava muito bem.

Não demorou muito e o banquete foi servido. Estava delicioso, fiquei impressionado com a habilidade do cozinheiro. Eu entendi o porquê ele ficou tão animado. Como costumávamos comer as mesmas coisas todos os dias, mesmo Lyunis variando as receitas, o sabor não mudava muito, mas estava sempre bom para mim. E ali com toda aquela carne de caça, era o momento que Lyunis conseguia aproveitar todo o seu talento.

— Bendita galinha que você roubou em, Lyunis! — disse Iori segurando um pernil grande.

Tentei entender a brincadeira, mas não consegui e Iori percebeu.

— Ele foi enviado para essa torre porque foi pego roubando uma galinha no quartel — Iori riu de chorar.

— Eu só queria fazer um ensopado — protestou Lyunis. — Aqueles idiotas estragavam todas as comidas. Queria comer algo bem feito para variar.

— Um brinde a nosso melhor cozinheiro — o Capitão levantou seu caneco de vinho na direção do cozinheiro e todos seguiram a saudação.

Levei comida para Arvih e perguntei se ele queria descer um pouco para aproveitar a conversa, me propus a ficar no lugar dele, mas ele não quis. Gostava de ficar sozinho.

— Como estão as caças, Iori? — perguntou Bony.

— Não sei o porquê, mas está cada vez mais difícil encontra algum animal, ou eu estou desaprendendo — ele riu.

— Não está desaprendendo, jovem. Tem algo estranho na floresta.

— Como assim? — quis saber Lyunis.

— Os animais estão agitados. Devem estar mudando para outra região, mas algo está assustando eles. Só pode ser um mau presságio.

— Este reino é o próprio mau presságio — o Capitão começou a dizer. — Faz algum tempo que ele está decadente.

— As coisas estão ficando muito difíceis mesmo — completou Bony. — Agora até a caça está faltando.

— Esse novo rei tem explorado o povo — o Capitão falava com rancor na voz. — É fraco, não sabe governar. Na época do seu pai tudo era muito melhor. Nossas defesas eram fortes. Temiam o reino de Malgar. Hoje… definhamos…

— Essa é uma triste realidade, meu amigo — o caçador ficou com seu semblante sério. — Outro dia, um velho amigo me enviou uma carta dizendo que não tinha aonde morar porque o rei havia obrigado ele e outros a sair de suas casas porque não tinham como pagar os impostos. Eu disse que ele poderia vir para a minha casa, mas ele não me respondeu mais. Eu temo que aconteceu o pior.

— O atual rei não é nem sombra do que foi seu pai.

— Eu não fazia ideia de que estava tão ruim — comentei sem pensar.

— Para quem é soldado não está tão mal — comentou Bony. — Vocês recebem muitos privilégios, moram nos quarteis, tem comida, água. Já para todo o resto está bem ruim. Muitos passam fome, não tem como pagar os impostos e são despejados de suas casas. Mas ninguém ousa desafiar o rei, como disse, o exército ainda está forte.

— Eu ouvi alguns comentários assim quando fui a cidade na primavera — Iori começou a dizer. — Poucos falavam, mas diziam que precisavam de uma revolução.

— As coisas estão sérias — Lyunis dizia com a boca cheia.

— E não há muito o que fazer, meus jovens. É bom morar em uma cabana no meio da floresta. Os cobradores de impostos não me acham — o senhor riu.

Quando a comida terminou. Bony ficou mais um pouco conosco e se despediu no fim da tarde. Antes de ir ele ensinou como criar armadilhas para Iori e eu fiz questão de me oferecer para aprender também. Algumas eram fáceis de fazer, precisavam de árvores e cordas, coisas básicas.

Antes de ir para minha vigília eu comecei a arrumar os livros que estavam empoeirados e pensava sobre o que Bony disse. Mau presságio. Eu nunca gostei dessa expressão, porque sempre significava que algo ruim estava para acontecer. Imaginava o que que poderia ser dessa vez.

Capítulo

Capítulos

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Sinopse

Lenna, uma renomada caçadora de titãs, com sua companhia, é enviada para investigar uma cidade em ruínas que dizem ter sido devastada por um ataque de titã. Após uma batalha noturna, sua vida corre perigo e precisa contar com a ajuda de um jovem misterioso para sobreviver.

A Era dos Titãs

Guilherme Orbe

Desenhista, escritor e sonhador. Comecei a criar histórias na infância e nunca mais parei. No começo me dediquei as histórias em quadrinhos, onde desenvolvi minhas habilidades de desenho. Hoje me dedico a literatura, e transformo minhas histórias em livros. Criar histórias é meu passatempo favorito.

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