A Última Jogada,  Histórias

01-01 – A Última Jogada | Um Novo Começo | SÉRIE

Nunca Imaginei que estaria assim, com a bola do jogo, na última jogada. Todo o meu esforço foi para este momento. Ouvia a torcida gritar ao meu redor, não conseguia identificar se gritavam a meu favor ou contra mim. Meu coração estava acelerado, o suor do meu corpo pingava no chão. Minhas mãos estavam trêmulas. Respirei fundo tentando me acalmar, fechei meus olhos, e por um momento tudo silenciou. Me preparei para o arremesso, lembrei de tudo que havia treinado, o movimento saiu natural e a bola deixou minhas mãos fazendo um arco em direção a cesta, a sorte estava lançada, e o tempo pareceu correr mais devagar. Uma sensação estranha, algo que achei que nunca fosse sentir…

A Última Jogada

***

Caminhava solitário em direção ao colégio que havia sido recém-matriculado. Me faltava ânimo para estudar. Seria tudo novo em uma cidade nova, bem diferente do interior, onde morava. O barulho dos carros me incomodava, parecia que todos estavam com pressa. Sentia saudade da calmaria do campo onde passei boa parte da vida. Tentava encarar de forma positiva. Fui enviado para a cidade grande para ser alguém na vida, pelo menos era o que meu pai insistia em dizer. Mas eu já me considerava alguém, o que mais eu poderia ser?

Chegando ao colégio percebi a diferença com meu colégio antigo. Construções altas, espaço amplo, o número grande de alunos, todos pareciam despreocupados e arrumados. Era a primeira vez em um colégio particular, segundo meu pai, melhor da região.

— Gostaria de se inscrever no time de basquete? — perguntou alguém se aproximando de mim. — Estamos aceitando novas inscrições para o time de basquete — ele continuou a dizer — Venha para o treino hoje à noite. Esse ano nós vamos ganhar!

— Este ano não vão ganhar nada de novo, Gringo! — zombou alguém que passava.

O jovem que chamavam de Gringonão se abateu e continuou a dizer:

— Não liga para eles não. É verdade que nunca fomos campeões, mas esse ano as coisas vão mudar.

— Mas eu não sei jogar basquete — respondi.

A verdade que até já tinha jogado, mas fazia muito tempo e não lembrava de todas as regras.

— Não se preocupe. Tenho certeza que você vai aprender rápido. Nos treinos você aprende. Não esquece, hoje à noite tem o primeiro treino do ano! Não falte!

Gringo se afastou para convidar um grupo de alunos que chegava. Eu pensei em me inscrever no time, mas desisti em seguida.

Na hora do intervalo o colégio estava calmo, muito diferente do ritmo do meu antigo colégio. Na quadra o time de basquete se organizava para uma apresentação, estavam determinados a atrair novos membros. Sentei na primeira fila da arquibancada e observei os cinco membros do time mostrando suas habilidades usando meia quadra. Convidavam os alunos que assistiam para jogar uma partida, mas ninguém parecia demonstrar interesse de participar.

— Nunca ganharam nada — outra pessoa zombou e provocou risos dos que ali estavam para assistir.

— Ano passado chegamos as quartas de final! — argumentou Gringo.

— Esteano vamos ganhar tudo — disse um dos membros do time após acertar uma cesta de longe, conseguindo alguns aplausos.

— Veja nosso capitão, está em ótima forma — aproveitou Gringo. — Está melhor que nunca, não é mesmo, Saulo?

Saulo era alto, seu rosto transmitia maturidade. O segundo mais alto que estava em quadra.

A plateia gargalhou novamente, dessa vez por causa da trapalhada do pivô.

— Cuidado, Big! — gritou Saulo com as mãos na cabeça temendo um acidente.

Big não possuía seu apelido por acaso, era o maior aluno do colégio, media dois metros e massa o suficiente para ser considerado obeso se fosse mais baixo. O grandalhão havia desabado tentando fazer uma enterrada, sendo mal sucedido, quase desabou em cima de Sid, o menor dos jogadores. Uma figura estranha, dentuço, magrelo, uma postura encurvada.

Juan, o quinto membro do time riu mais que a plateia. Apontava para o grandalhão atrapalhado. Gringo o acompanhou na risada.

— Meu Deus! Vi Sid virando patê agora — disse Juan pegando fôlego para continuar a rir.

— É…cuidado… — dizia Big sem jeito a Sid.

— Não se preocupe… — a estranha figura respondeu.

— Pensa rápido!

Interrompe Juan ameaçando passar a bola para Sid que protegeu o rosto por instinto. Juan correu em direção à cesta e fez uma bandeja, e parou fazendo pose para a torcida.

— Vão ficar com essa palhaçada até quando — dizia um jovem segurando uma bola de futsal. — Acabou o basquete. Acabou o basquete. Vaza!

Enquanto ele falava seus companheiros invadiam a quadra já posicionando o gol de futsal do lugar para iniciarem a partida e expulsarem o time de basquete.

— Ô do basquete, tá atrapalhando.

— Pode tirar o gol, aqui vai ter basquete! — dizia Saulo enquanto Big segurava com uma das mãos a parte de cima do gol impedindo que colocassem.

— Nós temos a autorização da direção — argumentou Gringo.

— Então vamos fazer assim, se a gente ganhar vocês no basquete, a gente colocao gol para jogar futsal e vocês saem da quadra.

— Vocês que sabem. Mas se a gente ganhar vocês nos ajudam à divulgar o time de basquete — propôs Juan olhando os doze jovens que queriam jogar futsal.

— Nem ferrando! Vai jogar eu, Marreco, Pezão, Bilico e Magrão. São cinco né? Vem time.

— Você sabe as regras não é? — Saulo quis saber, mas foi ignorado por Arthur que liderava o grupo que queria jogar futsal.

— Vem time! Vamos ganhar logo esses frangos — disse Arthur pegando a bola das mãos de Juan.

Big se posicionou no centro do garrafão, na ala esquerda estava Sid muito inseguro olhando para a arquibancada cada vez mais cheia. Gringo ficou na ala direita e se alongava parecendo um jogador profissional. À frente do garrafão estava Juan, o armador do time, e pouco atrás Saulo se preparava para o primeiro ataque de seus adversários.

Os times se encaravam. Os jogadores de basquete estavam sérios, posicionados como deveriam. Os que queriam jogar futsal ficavam posicionados de forma displicente na quadra. Eu era leigo quanto ao basquete, mas para mim pareceu que seria uma vitória fácil. E a torcida encarava como uma brincadeira. A arquibancada começava a encher. Muitos gritavam e brincavam. Por um momento em me senti assistindo uma partida de basquete de verdade.

Arthur conduzia a bola sem jeito, quicando com as duas mãos, ao ser marcado por Juan, segurava e quicava a bola na tentativa de passar por ele.

— Não pode fazer isso! — protestou o armador. — É falta! Duplo quique!

Eu não lembrava de todas as regras do basquete, mas sabia que não era permitido quicar com as duas mãos, e muito menos segurar a bola e voltar a quicar, pelo menos não da forma que Arthur estava fazendo.

Mas Arthur o ignorou e passou para Marreco que estava posicionado distante da tabela, o jovem arremessou como se batesse uma lateral no futebol de campo, a bola viajou rápida e entrou na cesta. E a torcida aplaudiu gritando o nome de Marreco.

Juan conduziu a bola para um contra-ataque rápido, mas foi desarmado por Magrão que levou a bola em grande velocidade para a surpresa de Saulo ao ser ultrapassado por ele.

— Foi falta de novo! Ele me deu um tapa no braço!

Reclamava Juan enquanto Magrão corria em direção a cesta sem ninguém a sua frente, após duas tentativas, acertou, marcando mais dois pontos.

— Pare de reclamar, Juan, eles não sabem das regras, ou não parecem se importar — Gringo recebia a bola na defesa para recomeçar o jogo.

— 4 a 0 pra gente! — zombava Arthur.

— Quem chegar a 12  ganha — lembrava Saulo após receber a bola e protegê-la com o corpo.

— Tá fácil! — o desafiante respondeu.

Após uma troca de passes rápidos do time de basquete, a bola parou nas mãos de Sid que parecia não saber o que fazer. Olhava para os lados e devolveu o passe para alguém sem ver. Quando ele percebeu havia passado para o adversário. Em um ataque desengonçado os jogadores de futsal haviam marcado mais 2 pontos.

— 6 a 0. Não vamos perder a conta — Arthur gracejava com a plateia que gritava a seu favor.

— Pelo amor de Deus, Sid, olha para onde você passa! — dizia Juan perto de perder a paciência.

— Que vergonha. Perdendo para quem nem sabe jogar basquete — se aproximava uma jovem alta com uma bola de basquete nas mãos.

— Ela chegou! — comemorou Gringo. — Dante veio também?

— Até parece que meu irmão viria no primeiro dia de aula.

Daniela deixou sua mochila na arquibancada e se preparou para entrar no jogo. Prendia seus cabelos longos e negros com um elástico qualquer que estava em seu pulso.

— Vai Sid, descansa um pouco — disse Saulo.

O menino esquisito parecia aliviado por sair de quadra. Recebeu um carinho em sua cabeça de Daniela e sentou ao meu lado.

— Dani, cuidado que eles não estão nem aí para as regras — alertou Gringo.

— Pode deixar comigo — ela respondeu.

Daniela olhou de forma descontraída e eu percebi que a postura do time havia mudado. E por algum motivo eu fiquei animado para ver como tudo iria terminar.

A Última Jogada

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Sinopse

Lenna, uma renomada caçadora de titãs, com sua companhia, é enviada para investigar uma cidade em ruínas que dizem ter sido devastada por um ataque de titã. Após uma batalha noturna, sua vida corre perigo e precisa contar com a ajuda de um jovem misterioso para sobreviver.

A Era dos Titãs

Guilherme Orbe

Desenhista, escritor e sonhador. Comecei a criar histórias na infância e nunca mais parei. No começo me dediquei as histórias em quadrinhos, onde desenvolvi minhas habilidades de desenho. Hoje me dedico a literatura, e transformo minhas histórias em livros. Criar histórias é meu passatempo favorito.

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