as crônicas do sonhador
Crônicas de um Sonhador,  Histórias

As Crônicas do Sonhador | Capítulo 1: Deserto Dourado

Se você tivesse o poder de criar qualquer coisa que imagina, o que você faria?

Durante as férias sonhei com um interminável deserto dourado. O sonho repetia quase todos os dias. Nunca me preocupei sobre o que poderia significar um sonho, mas a insistência me deixava preocupado. Acordava cansado, como se estivesse de fato caminhado em um deserto. Minha boca seca, meus músculos doloridos e meu corpo ensopado de suor.

Era o primeiro dia de aula do ano, meu último ano no ensino médio, não sentiria saudade da escola. Tomei um banho sem pressa, não ligava se chegaria atrasado, primeiro dia de aula nunca havia nada mesmo. Tinha bons motivos para caprichar na minha arrumação. Ester estaria lá. Uma paixão que me acompanhava desde o primeiro ano do ensino médio, quando a vi pela primeira vez. Minha timidez não permitia me aproximar muito, mas estava esperançoso, de alguma forma sentia que tudo seria diferente. Estava decidido a me aproximar e começaria no primeiro dia de aula.

Antes de sair, chequei minhas notificações. Meu blog estava online há alguns dias e não havia nenhuma visualização. Optei por dar um tempo nos meus projetos literários para me dedicar a essa missão. Era algo que precisava fazer, já que ninguém mais tinha coragem.

Caminhei em direção ao Colégio Augusto Torres, era próximo da minha casa. Uma escola pública com uma estrutura precária, um dos colégios mais antigos de São Valentim. Uma cidade de interior, onde tudo parecia do século retrasado. Quando cheguei, senti que algo havia mudado, tudo estava silencioso, algo tão raro quanto a extinção dos dinossauros. A escola estava estranhamente limpa, a grama aparada, as paredes pintadas com cores sóbrias, algo estava errado, parecia estar em outro lugar. O Colégio Augusto Torres era considerado a pior escola da cidade de São Valentim e de alguma forma os estudantes se orgulhavam disso, estudavam ali os que não tinham grandes perspectivas de vida e eu.

Procurava em todas as direções e não encontrava Ester. Os alunos estavam na quadra enfileirados prontos para cantar o hino nacional, não lembrava a última vez que isso havia acontecido. Entrei na fila da minha turma e de longe Julia me cumprimentou. Era minha melhor amiga, talvez a única pessoa que confiava todos os meus segredos, ou quase todos. Na fila ao lado vi Ester com seus cabelos louros encaracolados. Seus olhos verdes esmeraldas estavam ainda mais belos do que me lembrava. Senti uma pontada no peito e me dei conta que esse ano ela estaria em uma turma diferente.

Diante das filas perfiladas o novo diretor permanecia de pé, firme, com sua postura de poder comum em militares. Falou firme em bom som e todos puderam ouvir.

— Bom dia! Eu sou o diretor Braga, o novo diretor da escola — disse em voz grave, alta o suficiente para ser escutada do pátio e sem parecer estar forçando. Será um prazer trabalhar com vocês. Hoje começaremos uma nova fase desse colégio. Muitas coisas já mudaram e muitas outras mudarão. Conto com todos vocês para juntos construirmos uma escola melhor.

— Sim, senhor, Senhor! — interrompeu um engraçadinho fazendo grande parte dos alunos gargalharem.

Outro aluno começou uma brilhante imitação com a boca de um trompete de uma fanfarra militar. Esse alcançou ainda mais risadas.

O diretor esperou pacientemente sem esboçar nenhuma reação ao final das gracinhas e continuou seu discurso:

— Vejo que temos bons engraçadinhos aqui! Será um prazer conversar com eles em minha sala.

O diretor deu um sorriso malicioso e continuou:

— Repito: muita coisa mudará. Mau comportamento será inadmissível. Desordem não será tolerada. Os dias de caos dessa escola chegaram ao fim. Teremos novas rotinas, projetos, atividades, novos conceitos. Uma nova proposta para todos vocês.

Uma casca de banana voou em arco no céu e atingiu a camisa do novo diretor. Escorregou lentamente em seu tórax até finalmente cair no chão. O diretor não moveu um músculo para evitar.

— E estejamos avisados, culpados serão punidos com rigor. Troco cem alunos ruins por um único bom, e aqueles que não quiserem colaborar podem se retirar. — Apontou o portão secundário que ficava perto da quadra. — Não vão me fazer falta. Podem ter certeza que os maiores prejudicados serão vocês mesmos. Não pense que quando digo que vou punir com rigor que é uma ameaça, apenas comunico o que vou fazer.

Começou uma gargalhada generalizada na quadra, até os funcionários riam escondidos do diretor.

— Luiz Antônio! — Apontou o diretor na direção de onde a casca de banana saíra. — Me acompanha até a diretoria.

O colégio silenciou novamente, mas dessa vez durou mais tempo. Luiz mantinha o deboche no rosto a cada passo lento que dava. E eu me perguntava como ele sabia o nome dele, era seu primeiro dia como diretor na escola.

— Mas eu não fiz nada, Senhor Sargento.

E novamente os alunos voltaram a rir.

— Me acompanhe. Os demais permaneçam em filas por série. Vamos cantar o hino nacional todas às segundas-feiras.

Começaram os protestos recusando a nova proposta.

— Fala sério! Isso é coisa de ensino fundamental! — ouvi alguém gritar.

— Só sairão da quadra quando todo o hino for cantado. Não feito direito, repetiremos amanhã, e após, até todos aprenderem a forma correta.

O diretor saiu acompanhado do aluno em direção à diretoria e deixou os funcionários responsáveis pela organização, que não foi nada eficiente, pois nem mesmo eles sabiam bem o que fazer.

Após o hino nacional ser cantado de forma desajeitada os alunos seguiram para suas salas e o um falatório começou. Muitos riam, outros mostravam preocupação. Não me importava com o diretor, meu objetivo estava diante dos meus olhos. Ester seguia em direção a sala, adiantei o passo como um sopro de coragem, mas não fui rápido o suficiente. Outro chegou primeiro. O conhecia de vista, o intrépido colocou seu braço sobre os ombros de Ester e seguiram conversando e ela parecia gostar do assunto. Parei no corredor absorvendo a informação e amaldiçoando o rival em meus pensamentos. Havia planejado durante toda as férias esse reencontro, todos os assuntos já estavam planejados, sem margem para erros. Mas apenas observava ela se afastando abraçada com outro, sentia uma pontada no peito e todo tipo de pensamento pessimista tomou minha mente até Julia me empurrar para frente com gentileza.

— Vamos! Está atrapalhando o trânsito — ela disse me fazendo andar escorando suas mãos nas minhas costas. — Você está com uma aparência horrível.

— Obrigado.

— Deixa eu adivinhar. Deserto dourado de novo?

— Exatamente. Não aguento mais. Não consegui relaxar nessas férias.

— Só assistir à maratona de O Senhor dos Anéis que você dorme rapidinho — ela riu de deboche.

— Olha o respeito com o melhor filme de todos! Se fosse o Harry Potter daria para dormir fácil.

— Não começa que você também gosta, mané.

— Mais um ano nessa escola…

— Para de reclamar, seu chato.

Seguimos para nossa sala, pelo menos continuava na mesma sala de Julia. Meu humor estava péssimo por não ter dormido bem e não ter conseguido falar com Ester. Só queria voltar para casa e descansar. As aulas foram tão chatas quanto esperei que seria. No final das aulas me despedi de Julia e voltei para casa para remoer meus dramas. Deitei na minha cama sem tirar o uniforme, só queria pensar no que não deveria.

Cai no sono e para minha infelicidade sonhei outra vez com o deserto dourado. Ouvi alguém gritando, parecia sofrer. Caminhava pela areia fofa, o brilho do sol refletido na areia me impedia de ver o que estava a minha frente, estava ofegante. A areia estranhamente dourada crescia a minha volta e por um momento senti soterrado e acordei.

Ao despertar tive uma grande surpresa. Meu quarto estava tomado pela areia dourada. Era real, mas eu não acreditava. Quase um metro de altura, não sabia como explicar e não saberia o que dizer para minha mãe quando ela chegasse. Retirei toda a areia com uma pá no maior balde que encontrei e joguei no terreno abandonado ao lado da minha casa. Fiquei até a noite na tarefa sem entender o que havia acontecido. Quando finalmente terminei já era noite. Tomei um banho e deitei ainda mais exausto, mas dessa vez não sonhei com desertos.

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Guilherme Orbe

Desenhista, escritor e sonhador. Comecei a criar histórias na infância e nunca mais parei. No começo me dediquei as histórias em quadrinhos, onde desenvolvi minhas habilidades de desenho. Hoje me dedico a literatura, e transformo minhas histórias em livros. Criar histórias é meu passatempo favorito.

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