as crônicas do sonhador
Crônicas de um Sonhador

As Crônicas do Sonhador | Capítulo 9: Confiança

Organizava meus papéis, minhas pastas no computador. Dias se passaram após o e-mail de ameaça e nada havia acontecido até o momento. Cresci com o sonho de me tornar escritor. Sempre gostei de criar histórias, um típico sonhador com imaginação muito fértil. Comecei e não terminei muitas histórias, em grande parte, histórias de fantasia, que sempre foram minhas preferidas.

Revendo meus rascunhos via tudo que deixei de lado na busca contra o Comando Alternativo. Eles haviam tirado meu pai, eu o amava, minha maior referência e só Deus sabe o quanto eu sentia sua falta. Morreu sem explicação ou sem motivo, uma vítima de uma facção criminosa que ignorava as leis e controlava secretamente a cidade.

Queria entender o motivo deles terem o matado, era apenas um comerciante local, uma papelaria pequena. Minha mãe já trabalhava e com a morte de meu pai, precisou trabalhar mais para pagar as contas e quase não conseguia vê-la. A antiga papelaria do meu pai foi fechada, eu era novo para conseguir tomar conta dela e minha mãe não teria tempo.

Nesses dias treinava constantemente minhas habilidades, estava cada vez mais afiado, aumentava meu repertório de criações que era capaz de fazer com facilidade, quase automático. Precisava estar pronto para confrontar o C.A.

Fazia exercícios regularmente, praticava artes marciais por conta própria, treinava combate com armas brancas tinha muito a aprender. O espaço em minha casa era insuficiente para minhas necessidades, precisava de um quartel general, um lugar espaçoso para treinar minhas habilidades e planejar meus passos. Um lugar seguro e discreto.

Recebi uma ligação de Julia dizendo que sua irmã havia piorado e novamente seria internada. No dia seguinte acompanhei Julia no hospital, Max pediu para ir junto. Nos últimos dias ele se aproximou de nós, não era do tipo que fazia muitos amigos, a maioria tinha medo dele. Confesso que achei estranho seu interesse de ir, mas não vi problema e Julia concordou achando ainda mais esquisito. Chegamos no hospital e Max parecia conhecer os funcionários.

— Já volto — ele disse entrando em um dos corredores do hospital.

Julia olhou para mim desconfiada. Seguimos até o quarto onde a pequena Mariana estava. A enfermaria era pequena e havia outros pacientes dividindo o quarto. O rosto de Mariana estava pálido, um tanto anêmica, sem forças para conversar, mas mantinha seu bom humor.

— Tio, você veio — ela se animou ao me ver.

— Não poderia deixar de te visitar.

— A tia enfermeira disse que vou ficar aqui mais alguns dias. Ela disse que meu coração está fraco.

— Logo, logo você vai melhorar e voltar para casa.

— Não tem problema, fiz amigos aqui — ela apontou para seus colegas de quarto que pareciam em um estado mais grave que ela.

Era triste vê-la naquele estado. Puxava assuntos divertidos, fazia piadas para animá-la, mas na verdade era ela que me alegrava. Uma criança especial. Brincamos com seus colegas de quarto e o tempo passou rápido. Nos despedimos e fomos para a frente do hospital esperar Max voltar. Julia sempre ficava mal quando sua irmã era internada, uma preocupação que consumia sua família.

— Ei! — disse Max se aproximando. — Vocês demoraram.

— Onde você foi? — quis saber.

— Fui dar uma volta e estou cheio de fome. Vamos comer alguma coisa.

— É o que eu mais escuto você dizer — Julia implicou.

Sentamos a mesa de uma lanchonete próxima do hospital, ficamos na parte externa, tínhamos liberdade para conversar.

— Precisamos de um quartel general — comecei a dizer. — preciso praticar para criar coisas maiores. Meu quarto é muito pequeno.

— Você consegue criar dinheiro? — perguntou Max.

— É ilegal! — respondeu Julia.

— Crie algo que possa vender então. Se você quer um Q.G. vai precisar de um terreno.

— Tenho uma ideia, mas não sei como fazer para vender. Me empreste sua jaqueta para encobrir o que vou criar.

Escondi minhas mãos embaixo com a jaqueta de Max e comecei minha criação. Mostrei aos dois a esmeralda que criei.

— Não parece tão real — comentou Max.

— É que nunca vi uma de perto.

— Até sei porque pensou em criar uma esmeralda — debochou Julia rindo da minha escolha. — Use isso como referência.

Ela mostrou a pesquisa em seu celular de joias com esmeraldas e ouro branco. Fiz uma nova tentativa atento aos detalhes.

— Ficou muito melhor — comentou Julia animada.

— Parece bem real para mim — completou Max.

— E agora, como faço para vender?

— Pode deixar essa parte comigo, mas vai precisar de mais joias para comprar um terreno.

Criei mais algumas joias e embrulhei na jaqueta de Max.

— Dentro de alguns dias eu volto com o terreno — ele disse e se despediu seguindo seu caminho com sua Harley-Davidson.

— Podemos confiar nele? — perguntou Julia depois dele partir.

— Acredito que sim. Ele sabe meu maior segredo, só nos resta confiar.

***

Havia dois dias que Max não aparecia na escola, não dava notícias e eu começava a me preocupar. Faltava pouco para terminar as aulas quando recebi um comunicado preocupante:

— O diretor quer falar com você. — disse um inspetor na porta da minha sala.

No dia anterior o diretor havia deixado bem claro que o culpado pela brincadeira no banheiro seria expulso. Caminhava lentamente pelos corredores barulhentos da escola, não se sabe como os professores conseguiam dar aulas em meio a tanta baderna. Caminhava angustiado pensando em alguma forma de me livrar. Pelo tempo que havia passado pensei que estava livre de acusações. Talvez Marcos tivesse ligado alguns pontos e descoberto algo.

Preparava minha defesa. “Como eles poderiam contar sem parecerem loucos?” Questionava.

A sala do diretor ficava cada vez mais perto e a angústia aumentava a cada passo, parei de perceber o barulho à minha volta. Suava frio. Meu corpo tremia de preocupação. Lembrava da história que escutei sobre o diretor, seus métodos nada tradicionais. Diziam que ele foi expulso do exército por balear um recruta.

Entrei em sua sala e sentei com desconforto. Era uma tortura esperar. Faltando vinte minutos para o final da aula, o diretor entrou e fez um sinal para mim, indicando a cadeira que deveria sentar, exatamente à sua frente.

— Bom dia — disse o diretor.

— Bom dia — respondi tentando parecer que não estava intimidado.

O sargento em voz grave e sonora perguntou:

— Você acredita em fantasma? — O diretor muito sério coloca um vidro que continha um pouco da areia dourada sobre a mesa. Meu coração disparou freneticamente.

— Não de areia!

— Verdade, seria algo inédito.

Braga pegou o pote com a areia e colocou contra a luz, observava o material e continuou:

— Sabia que os filmes e desenhos que aparecem as areias movediças estão errados? Não basta apenas segurar uma corda para sair de dentro de uma areia movediça. Quando se está dentro dela seu peso é de um carro médio, é improvável que escape com apenas uma corda e com a força dos braços. Complicado, não acha? A principal forma de escapar é ficar imóvel até seu corpo flutuar. Você já viu uma areia movediça de perto?

— Não, senhor.

— Nem eu. Para mim, era o fenômeno mais interessante que uma areia poderia causar, mas confesso que assumir a forma de uma pessoa e prender um aluno no banheiro é bem mais intrigante. Entretanto, acho que talvez estejamos presenciando esses dois fenômenos — disse colocando o pote com a areia ao meu alcance me oferecendo. — Você já sentiu a textura dessa areia estranhamente dourada?

— Já. — disse controlando o máximo minhas palavras.

— É bem diferente das areias que estamos acostumados a ver… Mais suave. Não concorda? Esse colégio está cheio de areias movediças, saber evitá-las é um grande feito. Mas nem sempre isso é possível impedir de estar no lugar errado e na hora errada. Toda aquela areia não poderia ter chegado ao segundo andar sem ajuda ou talvez realmente seja algo sobrenatural. O que você acha que aconteceu?

— Não faço a mínima ideia, senhor.

— Agora notei uma boa qualidade sua. — O diretor sorriu relaxando em sua cadeira. — Você não é muito bom em mentir. É difícil encontrar alguém assim.

— Não, não, realmente eu não sei!

— O que você estava fazendo no banheiro quando aconteceu tudo?

— Estava apertado! — As palavras jorraram de minha boca e logo me arrependi de ter falado uma mentira tão idiota.

— Então, o que realmente aconteceu? Já que estava tão próximo.

— Eu não vi, eu só escutei Marcos gritando.

Por um momento o diretor Braga me observou. Estudou meus movimentos, minha tensão, eu já não conseguia esconder que estava nervoso e profundamente incomodado com o interrogatório, era um culpado afirmando sua culpa.

— Saiba que não tolero esse tipo de brincadeira, não poupo nem mesmo os cúmplices e não suporto mentiras. Essa é sua chance de falar o que realmente aconteceu.

— Eu já disse tudo que sei, senhor.

— Não me disse não. Mas já pode ir. E tome cuidado com as areias movediças. Cuidado em quem confia.

Não saberia dizer se havia sido descoberto ou foi tudo um blefe do diretor. Sentia um misto de alívio e preocupação, compreendia que não ficaria assim e o diretor Braga não deixaria passar esse acontecimento facilmente.

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Guilherme Orbe

Desenhista, escritor e sonhador. Comecei a criar histórias na infância e nunca mais parei. No começo me dediquei as histórias em quadrinhos, onde desenvolvi minhas habilidades de desenho. Hoje me dedico a literatura, e transformo minhas histórias em livros. Criar histórias é meu passatempo favorito.

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