Memória de um Soldado
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Memórias de um Soldado #9: A caça

Continuei a cavalgar em direção a fortaleza. Já não escutava os sons da batalha, imaginava que era o fim. Inimigos a cavalo me seguiam. Tentava despista-los na floresta densa. Flechas passavam próximas de mim, atiravam sem ter certeza de onde eu estava. Senti meu corpo ser projetado para frente e percebi que meu cavalo havia tropeçado em uma armadilha. Rolei no chão e senti fortes dores, me esforcei para me levantar e continuar correndo. Mancava e procurava os lugares mais estreitos para passar. Corria o quanto podia e meu fôlego já estava no fim, sentia que eles tentavam me cercar. Me encostei em uma pedra e comecei a preparar uma das armadilhas que o velho Bony havia me ensinado.

Era simples e precisava de uma corda e árvores. Criei um perímetro com a corda por entre a vegetação. Me escondi subindo em uma árvore e os esperei passar com meu arco e flecha em mãos. O primeiro passou por minha armadilha e caiu junto com seu cavalo e eu acertei uma flecha em seu peito. O segundo se aproximava sem entender o que aconteceu e eu o acertei o derrubando do cavalo sem vida. Desci da árvore antes do terceiro chegar, não sabia quantos eram e precisava ser o mais furtivo possível. Lembrava do meu treinamento na floresta e as instruções de caça de Iori e de Bony. Estava em desvantagem, mas precisava fugir.

O terceiro inimigo se aproximava com cautela, e não notou meu esconderijo. Me aproximei por trás e rasguei sua garganta. Escutava vozes vindo de várias direções, precisava mudar minha localização. Estavam distantes e aproveitei para avançar. Consegui despistá-los com muito esforço. Já estava sem forças quando encontrei a cabana do caçador Bony. Bati à porta, precisava avisá-lo do acontecido, ele também deveria fugir.

Ele me atendeu, estava alarmado e com um punhal na mão. Me reconheceu e me convidou para entrar. Expliquei o acontecido enquanto sua esposa me servia água para me acalmar.

— É uma pena tudo que aconteceu — ele disse sentando. — Eram bons homens…

— Vocês também precisam fugir — eu disse preocupado.

— Vou preparar nossas coisas, querido.

Bony preparou seu arco e uma bolsa de viagem.

— Agora entendo o comportamento estranho dos animais. Deviam estar se escondendo a dias nessas florestas. Tudo vai ficar bastante agitado.

Escutamos batidas na porta e Bony me indicou onde me esconder sem dizer nada. Escondeu seu arco e sua bolsa de viagem. Colocou um sorriso no rosto e abriu a porta.

— Estão perdidos por estas terras, senhores?

Haviam dois soldados vestidos de negro na porta. Não pareciam dispostos a conversar.

— Procuramos um jovem, acredito que ele tenha vindo nessa direção.

— Jovem? Querida, você viu algum jovem?

— Não. Faz tempo que não vejo um. Aqui vive apenas eu e meu marido.

— Nossos filhos partiram cedo para viajar pelo mundo e nos enviam cartas as vezes. Mas acredito que não sejam eles que vocês procuram. Desculpe por não poder ajudar.

— Não vão se importar se procurarmos aqui não é — um deles disse entrando na casa.

— Com todo respeito, mas me importaria sim — protestou Bony sem se intimidar. — Por acaso são representantes de Malgar, não vi seus brasões. Me parecem mercenários…

O caçador parou de falar colocando a mão na barriga. Do meu esconderijo eu pude ver o sangue encharcando sua roupa. Bony caiu e sua esposa gritou. Um dos mercenários segurava uma adaga suja com sangue.

— Velha, onde ele está? — perguntou ele sem paciência.

— Eu não o vi — a esposa de Bony chorava.

Deram um soco nela e a senhora caiu no chão. Eu não poderia ficar parado. Esperei o melhor momento e apunhalei um pelas costas com minha adaga e arremessei ela no segundo, mas não o feri suficiente para matar. Ele gritou andando em direção a porta e eu o decapitei com minha espada.

Ajudei a esposa de Bony levantar. O caçador já havia falecido. Escutei a madeira estalar e um calor forte se espalhou pela cabana. O fogo começou pelo teto de palha e se espalhou pelas paredes de madeira.

A senhora pegou o arco de Bony e sua bolsa de viagem.  Ela me indicou uma saída pelos fundos enquanto a fumaça se espalhava. O calor começava a ficar insuportável e difícil para respirar. Saímos pelo celeiro e nos deparamos com um mercenário. A senhora perfurou o coração do inimigo com uma flecha, seu olhar era de fúria. Ela também era caçadora e grande arqueira, já havia matado mais dois que se aproximavam enquanto nos dirigimos para a floresta. Mas ela parou de andar, foi atingida nas costas por uma lança. A senhora cambaleou e caiu sem vida.

Eu fugia com toda a velocidade que conseguia, mas não acreditava em tudo que estava acontecendo. Um sentimento profundo de raiva começou a dominar meu corpo. Minhas pernas corriam, mas eu queria lutar. Se fosse para morrer eu preferia morrer lutando até o fim.

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Sinopse

Lenna, uma renomada caçadora de titãs, com sua companhia, é enviada para investigar uma cidade em ruínas que dizem ter sido devastada por um ataque de titã. Após uma batalha noturna, sua vida corre perigo e precisa contar com a ajuda de um jovem misterioso para sobreviver.

A Era dos Titãs

Guilherme Orbe

Desenhista, escritor e sonhador. Comecei a criar histórias na infância e nunca mais parei. No começo me dediquei as histórias em quadrinhos, onde desenvolvi minhas habilidades de desenho. Hoje me dedico a literatura, e transformo minhas histórias em livros. Criar histórias é meu passatempo favorito.

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