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Admirável Mehra (1º ERA),  Histórias

Início das Nações | Contos da Admirável Mehra | 1º ERA

No início fiquei por muito tempo escondido, me recuperando do ferimento em meu peito. Por alguma razão eu sentia vergonha, e mesmo sem entender, eu sentia culpa. Após muitas estações, mais do que eu conseguia contar, sai do meu cativeiro imposto por minha falha. Era imaturo para entender tudo que mudava em mim. 

Me vestir com trapos que fiz com couros dos animais que me alimentei, inspirei até preencher completamente meu peito e senti uma dor em meu torço, onde a marca que nunca cicatrizou, pulsava. 

Após tantos anos de escuridão, ver enfim a luz do dia fez meus olhos lacrimejarem. Não era tristeza, sim, alívio. 

Notei muitas mudanças em Mehra. As criaturas únicas, que antes eram abundantes, tornaram-se raras. E eu não estava só em minha espécie. 

Via ao longe tribos crescerem, homens caçarem, e conflitos surgirem. Caminhei pelo solo batido por meus semelhantes, o ar estava diferente do que lembrava. Sentia o cheiro da criatura que há muito tempo encontrei em uma caverna. A marca que ela deixou em mim ainda doía. 

Me aproximei de uma tribo e vi seus passos apressados. Me olhavam com desconfiança. O que chamavam de casas era feitas com toras de árvores e palhas para proteger do tempo. Usavam roupas feitas com couros de animais, não muito diferente das minhas. Seguravam pedaços de madeira e armas feitas de pedras. 

A fileira de curiosos se abriu e do espaço formado revelou um homem alto, robusto, um olhar carrancudo e desconfiado. Falou algo que não fui capaz de compreender e em seguida meu rosto foi coberto, e jogado no chão, amarrado, não entendia o que estava acontecendo. Quando percebi estava preso em um lugar escuro. 

– Um invasor – disse alguém que não consegui reconhecer. 

– Não se parece com um deles – disse o homem robusto que vi anteriormente. 

– fazem planos para nós enganar. Querem descobrir nossas fraquezas antes do ataque. Precisamos eliminar a ameaça antes que seja tarde, grande líder. 

– hum – o homem pensou na possibilidade.  

Estava quieto no lugar que permitiram que eu ficasse. Minha visão começava a se acostumar com a escuridão e podia ver os seres que decidiam o que fazer comigo. O homem robusto que foi chamado de líder pensava. O que o aconselhava parecia abatido por uma idade avançada, rugas espalhavam por seu rosto. 

– temos que eliminar a ameaça, líder Honder. 

– saia! – ordenou o líder.  

– senhor… 

– saia, conselheiro. 

O tom de voz de Honder indicava inquietação. Seus olhos estavam fixos em mim. Se aproximou após o conselheiro partir e me perguntou? 

– Quem és? 

– Uma vez meu criador me chamaram de sentinela. 

– Criador? 

– Foi a forma que a voz se apresentou à mim. 

– Escuta as vozes dos seres superiores? – o homem carrancudo se aproximava. Sua curiosidade era notável e sua voz menos irritadiça. 

– Sim, os escuto. Não quando eu quero, mas apenas quando Ele deseja. Mas já faz muitas estações que não escuto sua voz. 

– Um enviado dos seres superiores, o presságio se cumpre. 

Honder dizia sem olhar para mim é eu tentava entender. 

– Venceremos todos os nosso inimigos enquanto o enviado dos seres eternos estiver entre nós. Você será um de nós e nos ajudará na batalha. 

Não houve tempo de questionar o real sentido de suas palavras. O líder retirou-se dando a ordem para me libertar.

Em liberdade, caminhava pela tribo que se erguia. Ainda me olhavam com desconfiança, mas respeitavam seu líder. Produziam armas feitas com madeiras e pedras. Estavam a espera de um ataque. Sua tribo instalada em uma clareira no alto de uma elevação permitia um vasto alcance de observação. O dia se passou e sons estranhos por entre as árvores foram se aproximando.

Honder ergueu sua arma e tomou a palavra. Por um momento toda a tribo silenciou.

— Lutaremos contra nossos algozes, que em muitas estações roubam nossas comidas e matam nossos irmãos. Hoje lutaremos sem saber se estaremos de pé ao amanhecer. Mas que opções temos? Ou lutamos ou perecemos de fome no inverno. Não lutaremos por mim, muito menos por nossos lares, sim por quem está ao nosso lado. Lutaremos para viver mais um dia, ou morreremos nesta noite com bravura. E nosso sangue manchara o solo e nada mais crescerá nesta terra. Lutaremos até o último homem. Lutaremos até o último inimigo. Hoje venceremos. E já desejo um glorioso amanhecer para aqueles que permanecerem estar de pé.

Honder gargalhou. Estava animado e sua tribo compartilhava de seu espírito. Gritavam gritos encorajantes e arrepiantes. Suas vozes somadas faziam parecer centenas.

Honder olhou para mim e disse:

— Você é o sinal da minha vitória.

Ele era maior que eu tanto em altura quanto em largura. Sua barba e cabelo espeço e profundamente negros estavam sujos com tintas de guerra.

Demorei muitas estações para entender o que realmente aconteceu naquela noite. Nada era por mero acaso, tudo possuía um propósito maior, que na época estava oculto ao meus olhos.

A batalha se iniciou na escuridão e todos que não eram capazes de lutar se esconderam. O conselheiro me arrastou para um abrigo fortalecido feito de pedras. No escuro ouvia os sons da batalha, sentia o cheiro da morte. Ela durou por muito tempo e a noite passava.

Ao amanhecer os sons cessaram e a pedra que selava a porta do abrigo foi aberta por fora. Na luz da manhã pude ver os vitoriosos de pé. Honder estava no centro da vila, sujo de sangue de cor incomum. Espalhado por todos os lugares estavam corpos de seres que desconhecia o que era. Era como homens deformados. Pelas somas dos cadáveres das criaturas inimigas abatidas, seus números superavam em muito os da tribo, e poucos dos guerreiros da tribo que lutaram permaneciam de pé.

Os urros de vitórias se estenderam, e esse foi meu primeiro contato com o que muitas estações após foi considerado o primeiro imperador de Mehra. Honder, o conquistador.

Contos da Admirável Mehra

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Sinopse

Lenna, uma renomada caçadora de titãs, com sua companhia, é enviada para investigar uma cidade em ruínas que dizem ter sido devastada por um ataque de titã. Após uma batalha noturna, sua vida corre perigo e precisa contar com a ajuda de um jovem misterioso para sobreviver.

A Era dos Titãs

Guilherme Orbe

Desenhista, escritor e sonhador. Comecei a criar histórias na infância e nunca mais parei. No começo me dediquei as histórias em quadrinhos, onde desenvolvi minhas habilidades de desenho. Hoje me dedico a literatura, e transformo minhas histórias em livros. Criar histórias é meu passatempo favorito.

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