Memórias de um soldado 5
Histórias,  Memórias de um Soldado

Memórias de um Soldado #5: O vigia

Era minha vez de ficar de vigia no alto da torre. Os dias se passavam e a minha rotina se mantinha a mesma, fazia meus treinos diários com a espada e com o arco e flecha, e revezava nas vigílias. O vento estava úmido naquele dia, não iria demorar para começar a chover. Eu havia organizado todos os livros da torre, e comecei a ler alguns, nem eram muito bons. E aos poucos começava a ensinar Iori a ler. Na torre apenas eu e o Capitão sabíamos ler, assim, eu acabei ficando como responsável pelo falcão mensageiro. Iori aproveitava meus turnos de vigília para estudar um pouco. Naquela noite ele fez o mesmo. Ensinava para ele as palavras, uma a uma, começava a ensinar a escrever também. Era um bom aluno, aprendia rápido.

— O que pretende fazer quando seu serviço aqui na torre terminar? — ele me perguntou olhando para o horizonte.

— Eu ainda não sei. Não acho que eu vou sair daqui tão cedo.

— Eles costumam trocar os postos depois de quatro ciclos de estações. E essa é minha última estação aqui. Pelo menos é o que o Capitão disse.

— O que pretende fazer quando sair?

— Eu não tenho para onde ir. Nem sei quem são meus pais. Desde que me entendo por gente eu vivo nos quarteis. Passei por vários. E aqui é o lugar onde mais me identifiquei. Vou sentir falta desses chatos. Talvez deixe de ser soldado e forme uma família. Venho pensando nisso ultimamente. Talvez eu só queira descansar, ter filhos parecidos comigo, uma esposa, uma casa simples…

— Acho que quando eu sair muita coisa deve estar diferente — disse pensando na minha família. Eu sentia saudade deles.

— Você tem para onde voltar?

— Tenho sim. Deixei minha mãe e meus irmãos para vir servir. Queria seguir o exemplo do meu pai, que também serviu e foi um bom soldado.

— E o que aconteceu com ele?

— Morreu em batalha a muito tempo atrás. Eu ainda era pequeno.

— Sinto muito…

— Não se preocupe, já faz muito tempo. Dizem que ele morreu como um herói. Segurou os inimigos para que seus companheiros escapassem.

— Vou pegar umas bebidas para brindamos em honra a seu pai.

Iori desceu as escadas e eu olhava para o horizonte. Tinha poucas lembranças do meu pai, mas eu sentia saudade dele, e também da minha mãe e dos meus irmão. Já estava muito tempo fora. Muitas noites eu pensava em voltar para casa e essa noite foi mais uma que senti uma profunda saudade de casa.

O vento ficou mais forte e o ar mais úmido. A chuva se aproximava e eu me encolhia buscando proteção contra o vento que começava a ficar frio.

Percebi uma movimentação estranha ao norte. As árvores balançavam, e não pela força do vendo, mexia em lugares específicos. Comecei a chamar a todos, mas não acreditaram muito, já estavam acostumados a não acontecer nada naquela torre. Porém o que movia as árvores se aproximava, não conseguia identificar o que era. Insisti em chama-los. Começava a ver vultos no início da floresta. Estava longe, mas era parecido com o que vi no meu primeiro dia ali. Algo nos observava.

Iori voltou apressado por causa dos meus gritos de alerta. Notou o mesmo que eu e começou a gritar mais forte. Estava surpreso, queria que fosse mentira.

— Vai avisar o Capitão! — disse ele sem fôlego. — Diz que aguardamos ordens.

Corri apressado até o quarto do Capitão e o vi sentado na cama. Parecia pronto para agir, mesmo estando em seu estado debilitado. Expliquei a situação a ele, eu estava tão nervoso que me embolei um pouco com as palavras, mas consegui dizer tudo.

— Prepare a ave. Escreva dizendo que estamos sendo atacados — ele disse sem hesitação.

Todos nós ficamos à postos no meio da noite e nada aconteceu a princípio. Os vultos desapareceram. Preparava a ave com a mensagem e olhava pela janela. Tudo voltou a ficar calmo. Preferi não esperar para ver. Terminei de escrever a mensagem e logo enviei o falcão que voou em direção a fortaleza mais próxima. Fui bem direto na mensagem e rezei para que eles não nos ignorassem.

A torre se localizava no meio de uma planície vasta. Era cercada por floresta por todos os lados. Uma pequena estrada levava em direção a cidade mais próxima, que ficava a dez dias de viagem. Notei que as árvores em todas as direções voltaram a movimentar e vi o primeiro homem sair. Vestia negro e com armaduras leves. O segundo e o terceiro saíram logo após. E cada vez mais soldados saiam da floresta em todas as direções, e não demorou muito para ser difícil contar quantos eram. Notei que não havia bandeira. Escutei um barulho e percebi que o falcão com minha mensagem havia sido abatido por uma flecha. Estávamos cercados e sozinhos. Consegui contar pelo menos cem inimigos. E reparei que haviam outros dentro da floresta, mas saiam aos poucos.

E outra vez naquela noite eu senti saudade de casa.

Próximo Capítulo

Capítulos

Ajude o projeto a continuar adquirindo o livro: A Era dos Titãs. Disponível na Amazon.

Sinopse

Lenna, uma renomada caçadora de titãs, com sua companhia, é enviada para investigar uma cidade em ruínas que dizem ter sido devastada por um ataque de titã. Após uma batalha noturna, sua vida corre perigo e precisa contar com a ajuda de um jovem misterioso para sobreviver.

A Era dos Titãs

Guilherme Orbe

Desenhista, escritor e sonhador. Comecei a criar histórias na infância e nunca mais parei. No começo me dediquei as histórias em quadrinhos, onde desenvolvi minhas habilidades de desenho. Hoje me dedico a literatura, e transformo minhas histórias em livros. Criar histórias é meu passatempo favorito.

Um comentário

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *