Histórias,  Memórias de um Soldado

Memórias de um Soldado #2: A Caçada

— Faz algo de útil, sorrisinho! — Gritou Lyunis quando eu estava acordando — estou cansado de comer ovo e galinha. Pegue algo diferente para variar.

— Pode deixar, meu nobre — Iori respondeu com sarcasmo.

— E leve esse novato. E vê se ensina alguma coisa para ele.

Estava sonolento ainda e vi Iori pegar seu arco, sem pressa.

— Quer ir caçar, novato? — ele me perguntou.

Aceitei, não tinha mais nada para fazer mesmo. E fazia muito tempo que não caçava. No quartel, eu treinava sempre com a espada, e as vezes com o arco. Treinávamos fazer paredes de escudo, flaquear, disparada, que considerava uma estratégia suicida, mas foi para isso que fui treinado, ser o primeiro da linha de frente, o lugar com menor chance de sobreviver.

Andamos em direção ao norte, seria território fora do nosso reino, mas percebi o que ele queria fazer assim que descobri a direção que estávamos seguindo.

— Você sabe ler?

— Sim. Minha mãe me ensinou quando eu ainda era pequeno — respondi.

— Que sorte! Muito raro alguém além dos nobres saber ler. Ou você é nobre e está disfarçado? — ele riu.

— Minha mãe trabalhava em uma casa de um nobre e ele a ensinou a ler para caso ele estivesse com a vista cansada demais para ler. E assim eu e meus irmão aprendemos a ler.

— Interessante. Você me ensinaria a ler?

— Claro! Vi que tem alguns livros na sala comum, e eles estão bem empoeirados.

— Antes de você chegar, só o capitão sabia ler, e ele não está com muito humor para livros, você viu o estado dele. Não deve resistir por muito tempo.

Adentramos na floresta e Iori começou a procurar rastros.

— Foi aqui não foi?

Confirmei com a cabeça.

— Se algo esteve aqui vamos descobrir, mas a princípio parece não foi nada.

Eu procurava por pistas, mas não sabia o que procurar.

— Observe se tem galhos quebrados — ele disse. — Folhas amaçadas no chão, pegadas. Essa floresta é densa, não tem como andar por ela sem deixar rastros.

Comecei a analisar tudo que estava a minha frente, mas não parecia ter nada. Começa a crer que foi fruto da minha imaginação, mas parecia ter sido tão real…

— Encontrei uma pegada!

Confesso que me preocupei nesse momento.

— É de um animal. Melhor dizendo: do nosso almoço — ele riu.

Caminhamos pela floresta seguindo as pistas. Iori parecia muito experiente, me mostrava os sinais, as pegadas e o que representava. Dizia que não fazia muito tempo que o animal havia passado e era grande o suficiente para alimentar a todos.

— Por que te enviaram para cá? — ele perguntou ainda atento aos rastros.

— Eu não sei bem. Ouvi dizer que enviam as pessoas que cometeram erros para cá como castigo, mas não lembro de ter feito algo de errado. E você?

— Uma aposta.

— Como assim?

— Apostei com meu comandante em um jogo de mira e ganhei. E estaria tudo bem, mas não resisti. E… digamos que… eu passei do ponto na brincadeira. Zombei do meu comandante na frente do pelotão. E aqui estou! — ele sorriu. — Há mais de três ciclos de estações.

Fiquei sem palavras e ri. Lembrei do meu comandante e de alguma forma eu entendi a vontade dele de zombar.

Continuamos a busca e Iori continuou a me ensinar sobre caçar e como usar melhor um arco e flecha. Ele era bom e não demorou para achar sua presa.

— Respira — ele começou a dizer. — Tenciona bem esse arco, mira perto no pescoço.

Eu mirava com cuidado. O animal estava distraído, cheirava a grama sem saber que viraria um baquete. Disparei a flecha, mas não acertei onde queria. O animal gruiu de dor e partiu em disparada na tentativa de fugir, mas antes de dar o segundo passo, uma flecha acertou seu pescoço e caiu sem vida. Iori sacou seu arco com tanta velocidade que mal consegui ver.

Voltamos para a torre e no caminho Iori aproveitou para colher algumas ervas, me explicou que servia para amenizar a dor do comandante.

Na torre Lyunis fez uma festa quando chegamos.

— Esse é bem gordo, bem gordo! — repetia ele.

E Iori também deu as ervas colhidas e o cozinheiro desfez um pouco de sua animação.

— Ele está pior hoje — disse Lyunis.

Iori não disse nada, apenas guardou o arco.

Lyunis surpreendeu, fez um banquete com o porco selvagem. Preparou batatas plantadas na horta, cozinhou legumes, acompanhamentos simples, mas foi minha melhor refeição desde que virei soldado. Porém a noite não foi feliz. Todos escutavam as tosses constantes do capitão e comentavam que ele piorava a cada dia. A preocupação era nítida. E mesmo sem saber nada do capitão eu compadecia de sua dor, e queria poder ajudar de alguma forma.

As ervas medicinais parecia ter começado a fazer efeito e as tosses diminuíram, mas foi tarde demais para o clima de preocupação melhorar.

E esse foi meu segundo dia na torre de vigia Aganon.

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Sinopse

Lenna, uma renomada caçadora de titãs, com sua companhia, é enviada para investigar uma cidade em ruínas que dizem ter sido devastada por um ataque de titã. Após uma batalha noturna, sua vida corre perigo e precisa contar com a ajuda de um jovem misterioso para sobreviver.

A Era dos Titãs

Guilherme Orbe

Desenhista, escritor e sonhador. Comecei a criar histórias na infância e nunca mais parei. No começo me dediquei as histórias em quadrinhos, onde desenvolvi minhas habilidades de desenho. Hoje me dedico a literatura, e transformo minhas histórias em livros. Criar histórias é meu passatempo favorito.

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