Meu Pai, Meu Herói
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Meu Pai, Meu Herói | Conto

A sala estava iluminada com folhas pintadas espalhadas por todos os lugares. Deitada no chão, uma menina desenhava por horas. Pequena para sua idade, seu penteado bem feito indicava o cuidado de quem prendeu seu cabelo. Não parecia se importar com o que acontecia a sua volta, estava imersa em sua atividade.

Junto com a menina na sala, uma mulher madura, com semblante acolhedor observava as ações da menina de uma forma bem discreta.

Batidas na porta foram ouvidas e um homem bem vestido pediu licença antes de entrar.

— Desculpa pela demora, senhora Marta. Precisei resolver alguns assuntos — disse o homem se aproximando. — Senhorita Laura, ouvi dizer que está com fome. Espero que goste.

O homem sentou no chão perto da menina e entregou um pequeno lanche para ela.

A menina sentou para comer e mostrou o último desenho que tinha feito. Era a figura de um homem em uma pose heroica.

— Quem é esse? — perguntou o homem.

— Meu pai — ela respondeu. — Preciso contar um segredo. Mas promete que não vai contar para ninguém.

— Pode ficar tranquila, senhorita, não sairá dessa sala — disse o homem sorrindo e desviando o olhar por um breve segundo em direção a mulher presente na sala.

— Meu pai é um super-herói — Laura disse sussurrando.

O homem hesitou antes de dizer o lhe veio à cabeça e a menina continuou:

— Quando mamãe ficou dodói, ele me levava para visitar ela todos os dias — ela mostrou outro desenho e continuou — ele me comprava sorvete de chocolate na volta. Ela não está mais dodói. Papai me disse que ela estava cansada e precisou descansar com os anjinhos.

O homem segurou para não demostrar o que sentia. Ficou um pouco em silêncio e a menina continuou a desenhar.

— Você gosta bastante de desenhar não é.

— Sim. Eu quero ser artista quando crescer.

— O que está desenhando agora?

— Meu pai usando seus super poderes. Ele faz a melhor comida do mundo, nem a mamãe faz melhor que ele. E as vezes ele luta contra homens maus. Uma vez… — ela fez uma pausa e continuou — olha como ficou.

O homem observava o desenho e achava curioso. Uma sombra aparecia atrás da figura do pai. Ele percebia que em outros desenho também havia a mesma sombra disforme.

— O que é essa sombra?

— O homem mau.

— Você o viu?

A mulher o olhou sério indicado para ele ter cuidado com o que perguntaria a partir daquele ponto.

— Vi sim. Ele era feio. Tinha menos dentes que eu — ela abriu a boca para mostrar a ausência dos dentes da frente. — Acho que ele conhecia meu pai. Ele pediu uma coisa para ele. Mas foi muito mal educado. Não gostei dele. Meu pai me ensinou que precisamos pedir por favor e o homem feio não fez isso. E papai não gostou nada da falta de educação dele.

— E seu pai fez alguma coisa?

— Sim. E o homem saiu correndo. Acho que tinha esquecido alguma coisa, porque ele voltou, mas voltou com os amigos dele. Eram feios também. Falaram alto e meu pai não deixou eu ficar olhando para eles.

A menina mostrou um desenho que tinha feito dos homens que viu. Era um conjunto de manchas disformes com olhos vermelhos.

— E o que esses homens fizeram?

— Eu não sei. Papai pediu para eu ir correndo para a casa da tia Ju. Fiquei com medo, mas ele brigou comigo e falou para eu ir e esperar ele lá. Aí eu escutei alguns barulhos muito altos, mas já estava perto da casa da tia Ju. Mas ele está atrasado.

O homem pensava no que dizer e pegou um dos desenhos que chamou sua atenção.

— O que é esse desenho?

— É papai indo visitar a mamãe. Ele foi visitar ela e não me levou. E esse é o homem feio penteando o cabelo para ficar bonito. Papai me disse que uma pessoa de coração feio poderia ficar bonito se ele se arrepender. E ele sempre me pediu para rezar todas as noites para que as pessoas de coração feio se arrepender e ficarem bonitas.

— Você tem um coração muito bonito — disse o homem.

— Por que você está triste?

— É por causa dos homens feios.

A menina começou a desenhar e entregou ao homem um desenho dele sorrindo e com os cabelos bem penteados.

— Obrigado — ele disse.

A menina sorriu e o homem se despediu e saiu da sala. Do outro lado da porta ele chorou.

— Vou pegar quem fez isso com o delegado, mesmo que seja a última coisa que eu faça. Ele era o melhor de nós. Por que os melhores partem tão cedo?

O luto na delegacia se estendeu, era mais um de seus companheiros que havia partido, um herói que cumpriu sua última missão.

Contos

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Sinopse

Lenna, uma renomada caçadora de titãs, com sua companhia, é enviada para investigar uma cidade em ruínas que dizem ter sido devastada por um ataque de titã. Após uma batalha noturna, sua vida corre perigo e precisa contar com a ajuda de um jovem misterioso para sobreviver.

A Era dos Titãs

Guilherme Orbe

Desenhista, escritor e sonhador. Comecei a criar histórias na infância e nunca mais parei. No começo me dediquei as histórias em quadrinhos, onde desenvolvi minhas habilidades de desenho. Hoje me dedico a literatura, e transformo minhas histórias em livros. Criar histórias é meu passatempo favorito.

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