O Valor da Tormenta
Conto,  Histórias

O Valor da Tormenta – Parte I | Conto

As constantes chuvas da região do Arquipélago de Mayras não aplacava a obstinação de um capitão. Zann a bordo de seu barco Valor da Tormenta desbravava os mares em busca de sua presa. Eram tempos obscuros, que pouco se sabe, e em períodos como esses a luz da verdade não penetra com profundidade.

Mesmo diante de todas as recomendações, o ousado e destemido capitão avançava por águas perigosas, com seu barco especial para enfrentar a sempre-chuva, construídos por engenheiros Mayras que partilhavam de conhecimentos antigos para desenvolver barcos capazes de enfrentar as constantes tempestades. A fúria dos mares nada poderia fazer com suas construções resistentes e cobertas como um casulo retrátil, o globocentrus era um dispositivo em seu meio o mantinha sempre virado para cima independente do que acontecesse, seu motor aproveitava a própria força da água para mover-se, um mecanismo chamado por seus criadores de enganamar. Pouco se sabe sobre a engenharia incomum dos mayras, muito se perdeu com o passar do tempo, mas na época acreditavam funcionar por algum tipo de magia, mas hoje, percebemos que era uma tecnologia avançada e pouco compreendida por leigos.

Em todas embarcações Mayras, algumas se destacavam por sua coragem, que para alguns mais parecia loucura, eram os caçadores de monstros marinhos. E dentre esses considerados desajustados existia uma tripulação que se destacava por sua ousadia, que perseguiam as bestas mais perigosas e essa era a tripulação do Valor da Tormenta.

Naquela noite o Capitão Zann estava mais disposto que o normal. Seu humor estava revigorado por estar em plena perseguição a um grande monstro marinho. Era jovem em idade, mas experiente em seu ofício. Uma vida dedicada a uma única função. Era de onde tirava seu sustento, a carcaça de um monstro marinho valia muito dinheiro, quase tudo poderia ser aproveitado e vendido. Não era o que pode ser considerado um humano, seus olhos eram cinza, sua pele úmida, cabelo castanho, ombros largos, braços esguios e músculos adaptados para longos mergulhos, pele parda.

Tormenta

Sua raça era chamada de myrie, a um olhar desatento poderia se passar por um humano normal, mas depois de tantas gerações que a região sofre com a maldição da sempre-chuva seus corpos se habituaram ao mar, ganharam uma capacidade anormal de resistir ao oceano, podendo ficar por longos períodos sem voltar para a superfície para respirar. Seus olhos ignoram a escuridão e há quem diga que nunca haverá nadadores melhores em qualquer outro lugar. Zann com sua tripulação de myries, que juntos formavam um grupo com quatro caçadores destemidos. Cada um com suas funções e bem capacitados. O capitão olhava para uma grande onda que se formava a sua frente e sorria, lembrava do apelido que ganhou de seu pai, filho da tempestade, algo nas ondas furiosas o trazia nostalgia.

— Preparem-se, porque hoje o mar está glorioso — disse o capitão vibrando de alegria.

Ardurin, o engenheiro, que não compartilhava da alegria de seu capitão em enfrentar tempestades, se preparava porque sabia que seria uma noite difícil. Operava o motor com destreza, as engrenagens rugiam e a água girava com mais força fazendo o barco acelerar, sabia que era necessário enfrentar a onda de frente. Não era musculoso, mas segurava firme as alavancas para se manter no controle da embarcação. Seu cabelo era liso escorrido e um olhar sério.

Ruko era o armeiro, e ajudava Ardurin na preparação para enfrentar a tempestade, usava seus músculos para manter as peças do motor em ordem. O Valor da Tormenta era um bom barco, mas já havia anos que cumpria sua função, sua constante necessidade de manutenção já indicava que seu fim estava próximo. O armeiro era alto cultivava uma barba grosseira e rustica, tinha sorriso largo e fácil.

— Eu não entendo essa animação de vocês — reclamou Ardurin.

Ruko riu e respondeu:

— Isso não te faz vibrar por dentro? Saber que qualquer erro pode significar o fim.

— Não! Você e o capitão são loucos.

Ruko riu com ainda mais vontade e Ardurin não resistiu a gargalhada honesta do armeiro e o acompanhou na risada.

— Capitão — começou a dizer Dalsha, o navegador — tem algo estranho nesta onda.

O navegador era baixo, com um olhar cansado e cabelos negros.

— E o que seria?

— Ela está se formando muito rápido, me parece pouco natural.

— Quer dizer que não vem da tempestade?

— Sim, me parece que algo a provocou e não a força do mar.

O capitão se animou, pensou por um instante e disse:

— Isso significa que um monstro marinho que a provocou.

— Capitão…

— Diga.

— Um monstro marinho capaz de produzir uma onda deste tamanho… você deve imaginar o tamanho, e…

— Então estamos perto dele!

Capitão Zann olhou em volta se preparando mentalmente para tudo que era necessário ser feito e continuou:

— Preparem-se! — gritou alto o suficiente para todos ouvirem — estamos perto de nossa presa. Passaremos por essa onda e entraremos em postura de ataque. A seus postos!

Todos sabiam o que fazer, era algo natural para eles, mas não significava que seria fácil, qualquer erro poderia ser a morte. O Capitão assumia o leme e alinhava o barco para entrar de frente na base da onda. Dalsha supervisionava o globocentrus no coração do barco, a sala estava quente e um leve vapor subia. Ruko segurava os descompressores e firmava para o motor não perder potência. Ardurin mantinha o motor antigo funcionando com manobras em suas alavancas diversas.

Era um barco antigo e pequeno, uma minúscula embarcação em comparação a onda a frente. O Valor da Tormenta tremia com a pressão do esforço de seu motor. A onda como uma parede curva, proeminente e altiva parecia querer os engolir, mas a embarcação valente seguia navegando a onda em direção ao seu topo, suas juntas ameaçavam desmontar, sua tripulação corria e se esforçava para manter tudo no lugar com um esforço frenético, o Capitão gritava com um sorriso no rosto mantendo o barco centralizado com perfeição.

Tormenta

E ao chegar no topo da onde viu a amplitude infinita do mar e a calmaria que viria em seguida, era a confirmação que precisava que não era uma tempestade, e sim o pater da nadadeira de um mostro marinho, que a muitos dias perseguiam, e não havia como segurar sua empolgação, finalmente estava próximo de sua presa.

O Valor da Tormenta – Parte II (em breve)

Contos

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Guilherme Orbe

Desenhista, escritor e sonhador. Comecei a criar histórias na infância e nunca mais parei. No começo me dediquei as histórias em quadrinhos, onde desenvolvi minhas habilidades de desenho. Hoje me dedico a literatura, e transformo minhas histórias em livros. Criar histórias é meu passatempo favorito.

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