Ronin Thunder
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Ronin Thunder | Capítulo 4: Vazio

Isaac contemplava o vazio, deitado em sua dimensão particular. O clima era ameno, iluminado por uma luz fraca produzida por uma lâmpada. O gerador improvisado fazia barulho, mas ele já estava acostumado. Deitado, acostumava-se com a nova sensação de poder. Via fleches de lembranças dos portadores dos fragmentos que absorveu. Via imagens turvas da infância do agente Hermes, teve uma infância sofrida, de rejeição. Foi acolhido para fazer parte de experiências do governo muito cedo e assim tornou-se um soldado fiel. Sem família, sem quem pudesse se importar. Suas lembranças seguiam para seus pais. Os via correndo, fugindo assustados e ao mesmo tempo misturava com as suas lembranças reais de sua infância, onde foi feliz com eles. Os ouvia dizendo sobre o herói que desafiou o governo, apenas um homem e foi capaz de quase vencer. Mas desapareceu após sua última batalha e sua localização seria a chave para a vitória. Todos buscavam o que achavam que seria seu túmulo, onde estaria todo o seu poder. Ouvia seus pais dizendo:

“Encontramos”, eles diziam com alegria. “Assim conseguiremos encontrar o herói.”

Isaac não conseguia compreender a informação, suas lembranças tornavam-se turvas, as vozes confusas. Via seus pais fugindo, estava ao lado deles. Agentes do governo os perseguiam. Em uma ruela qualquer, via seus pais gravemente feridos. Seguravam sua mão e pediam um último abraço. Ali abraçados, sopraram seu último suspiro de vida, tornaram-se fragmentos e uniram-se a Isaac. Ele chorou. Deitado observando o vazio, chorou.

***

Havia dormido e não percebeu. Abriu os olhos e decidiu continuar seu projeto. A peça que havia conseguido nos entulhos da cidade era a que precisava para concluir. Começou seu trabalho posicionando a peça nova, estava em bom estado, algo raro. Seu gerador tremeu, as luzes piscaram e uma fumaça negra se espalhou. Isaac tossiu com o rosto sujo, mas feliz ao retirar o fruto do seu trabalho. Em suas mãos estava um bastão de aço maciço com detalhes em cobre. Em seu interior, um dispositivo criado por Isaac para armazenar eletricidade, uma tecnologia usada em seu gerador. Não era pesado, o equilíbrio perfeito ao seu gosto. Na base do cabo do bastão estava a chave do dispositivo que acionava a energia armazenada. Seu próprio poder seria usado para carregar e usaria em ataques sem precisar gastar mais energia. Estava ansioso para usá-lo.

Começou a treinar com sua nova arma e testava suas novas habilidades. Agora possuía a força de três fragmentos. Sua capacidade de usar eletricidade estava mais apurada, não precisava recarregar por tanto tempo para disparar um raio. Sua capacidade de teletransportar havia sido ampliada para mais alguns metros e a criação de portais para sua dimensão particular reduziu em tempo de criação e agora conseguia abrir uma porta dimensional pequena, suficiente para passar apenas a sua mão, já imaginava um bom uso para isso.

Após o descanso dos treinos, era hora de voltar a cidade para conseguir mais peças, precisava de dinheiro, suas reservas já haviam reduzido. Atravessou a porta dimensional em um lugar deserto, mas ao longe via fumaças subindo. Aproximava e presenciava revoltas acontecendo em lugares diferentes. No tempo que ficou em sua dimensão particular muitas coisas haviam acontecido e tentava entender. Procurava o agente que o atacou, mas não o viu em nenhum lugar. Os rebeldes lutavam contra soldados e pareciam estar perdendo, não tinham forças para reagir à altura. No centro dos tumultos via o vice-líder dos rebeldes, não o conhecia, mas sabia que se chamava Tom. Sua aparecia se destacava, uma jaqueta de couro e um topete exagerado, era alto e atlético, resistia o quanto podia a ofensiva das forças do governador.

Isaac respirava fundo para unir-se a luta. Quando deu seu primeiro passo rumo a batalha sentiu uma mão em seu ombro.

— Pense bem o que vai fazer — era a voz do samurai. — Será um caminho sem volta.

Isaac olhava sério para o samurai, não sentia más intenções em sua voz. O olhar dele permanecia distante, como se pensasse em algo.

— Já presenciei por muito tempo todo esse sofrimento.

— Para quem tem fragmentos é perigoso mostrar seus poderes abertamente. Todos vão te perseguir desejando seu poder. Até mesmo quem deveria estar ao seu lado.

Isaac sabia que o samurai estava certo, era por este motivo que permanecia distante das manifestações durante todos esses anos.

— E quer que eu veja tudo sem me indignar? Fica cada vez mais doloroso.

— Eu já fui igual a você. Queria mudar o mundo, mas acabei perdendo tudo que amava. Hoje me restou apenas a casca do que fui um dia. Não estou aqui para te impedir, só não lhe desejo o que aconteceu comigo.

— Mas eu posso fazer algo aqui e agora, esses soldados não teriam a menor chance.

— E depois? Mais soldados viriam, juntariam agentes e mais agentes. O Governo Mundial responderia com brutalidade e toda essa rebelião seria dizimada em instantes. Já vi isso acontecer diante dos meus olhos.

Isaac ficou pensativo, sabia que o samurai tinha razão. No fundo sabia que não poderia se envolver sem aumentar as proporções das manifestações. Mas seu coração doía ao ver os rebeldes sendo massacrados. Recuavam sem forças para continuar lutando.

— Me chamo Hattori — disse o samurai levantando seu chapéu de palha. — Vamos a um lugar menos barulhento e creio que você me deve um almoço. Precisamos conversar sobre os agentes.

O samurai caminhava para a direção contrária aos conflitos e Isaac o seguiu.

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Sinopse

Lenna, uma renomada caçadora de titãs, com sua companhia, é enviada para investigar uma cidade em ruínas que dizem ter sido devastada por um ataque de titã. Após uma batalha noturna, sua vida corre perigo e precisa contar com a ajuda de um jovem misterioso para sobreviver.

A Era dos Titãs

Guilherme Orbe

Desenhista, escritor e sonhador. Comecei a criar histórias na infância e nunca mais parei. No começo me dediquei as histórias em quadrinhos, onde desenvolvi minhas habilidades de desenho. Hoje me dedico a literatura, e transformo minhas histórias em livros. Criar histórias é meu passatempo favorito.

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