Ronin Thunder
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Ronin Thunder | Capítulo 5: Convicção

Isaac seguiu o samurai para distante dos conflitos que se espalhavam pela cidade. Seu coração apertava. Um sentimento ruim de impotência agravava sua revolta. Nunca gostou dessa condição de viver escondendo seus dons e principalmente por saber que poderia ajudar a aliviar o sofrimento das pessoas.

Passavam por ruas com grandes lojas iluminadas com cores extravagantes. Televisões nas vitrines blindadas mostravam propagandas do governo. Comerciais com imagens belas, uma narração suave dizendo os feitos do Governo Mundial. Isaac escutava os relatos da luta contra a fome, a miséria, os conflitos contra os clãs que travavam batalhas sangrentas fora das cidades, tudo indicando atos altruístas do governo, da confiabilidade dos agentes que arriscavam suas vidas para manter a ordem e a paz. Isaac observava a sua volta, muitos moradores de rua jogados nas calçadas pedindo esmolas, desacreditados de viver. Era uma vida difícil para todos que não possuíam influência política. O governador e seus aliados viviam com todos os luxos que poderiam ter. O clima desértico e caótico impregnava nos habitantes da cidade e a maioria simplesmente desistia de lutar por uma vida melhor. Aqueles que ousavam lutar eram massacrados.

Hattori, que caminhava à frente, parou em um restaurante modesto, pouco frequentado.

— Aqui poderemos conversar melhor.

Entrou e cumprimentou o dono que os acompanhou até um lugar reservado.

— O que quer falar comigo? — Isaac perguntou sentando.

— Os agentes não nos deixarão em paz. Os radares não são tão precisos e acredito que conseguiremos ficar escondidos por um tempo. Mas acredito que não vai durar muito.

— E você quer a minha ajuda para lutar contra eles? — disse Isaac colocando os pés em cima da mesa relaxando.

— Não. Quero que você lute contra eles. Não quero problemas.

Hattori retirou seu chapéu de palha o colocando ao lado. Seu rosto era sério e maduro. Uma barba mal feita e falhada. Seu cabelo era negro e longo amarrado em rabo de cavalo bem apertado. Seu corpo era forte. Usava o mesmo quimono do dia anterior. Deixou suas duas espadas ao lado de onde estava e parecia sentir-se seguro.

— E você vai ficar aqui sentado olhando? Por que me ajudou se não queria problemas?

— Eu sou apenas um andarilho, você que quer ser um herói. O salvei porque você me deve.

— Olha, você não me engana. Pode dizer, está louco para lutar. Você vai me ajudar, sinto isso.

— Como disse, eu já fui igual a você e terminei sem nada. Pertencia a uma colônia, uma das poucas que sobraram do meu povo. Era apenas um professor de matemática. Treinava a arte da espada para defesa pessoal apenas. Minha esposa foi tirada de mim, estava nos meus braços quando… — ele fez uma pausa e continuou. — Ela descobriu o que não podia e foi morta por um agente por causa disso. Lutei por ódio e vingança e em resposta perdi tudo que ainda me restava. Minha colônia foi dizimada, sobrevivi por sorte. E depois disso vaguei por muitos lugares até chegar aqui. Não desejo isso a ninguém. Como disse, sou apenas uma casca do que fui um dia. O que tenho a dizer a você é: se for lutar, lute com inteligência. Porque eu conheço as consequências de uma luta impulsiva.

— Perdi meus pais quando ainda era muito novo e nunca tive muita coisa para perder. Eu jamais vou desistir de lutar. Se todos desistirem por causa da dificuldade, quem vai lutar? Juntos podemos livrar essa cidade desse mal, depois seguimos para outra cidade e assim continuamos.

O samurai gargalhou e parecia uma risada genuína.

— Itadakimasu — disse Hattori quando recebeu sua refeição.

— Ita… quê?

— Apenas um agradecimento pela comida. Mas como dizia, não desejo te parar, apenas não quero que cometa meus erros. Não lute apenas por ódio ou apenas vontade.

— Só aceitarei seus conselhos se lutar ao meu lado — Isaac parecia animado com a possibilidade. — Você é um samurai, mal te vi lutar e já sei que é forte. Só por ter me chamado aqui já revela o quanto você quer lutar, eu sinto. Vamos vencer!

— Não obrigado — Hattori comia com uma expressão neutra, a animação de Isaac não lhe afetava. — Aparentemente é impossível derrotar o Governo Mundial.

— E se houvesse um jeito de encontrar o túmulo do grande herói?

— É apenas uma lenda, esquece isso — sua expressão oscilou por um breve instante.

— Não é. E eu sei onde…

— Nunca diga isso em voz alta, nunca! Mesmo que seja mentira, nunca diga — O samurai interrompeu Isaac.

— Por que? Não tem ninguém nos escutando.

— Como pode ter certeza?

Isaac olhou a sua volta e não via ninguém, estavam sozinhos no restaurante. O dono permanecia na cozinha preparando outros pratos.

— Estão em todos os lugares, você que não sabe ainda.

— Mas eu vou encontrá-lo.

— Se esse é o seu plano, boa sorte. Muitos tentaram e não tiveram sucesso.

— Mas eles não eram eu e não tinham você para ajudar. Está decidido. Você vai me ajudar a derrotar o Governo Mundial e pra comemorar vamos comer mais uma rodada, por que essa comida está maravilhosa, nossa!

O samurai riu alto e bebeu um pouco de saquê.

— Não vai desistir, não é?

— Nunca! Agora com você me ajudando estou com ainda mais certeza.

— Eu nunca concordei em te ajudar.

— Eu sei que primeiro precisamos lidar com esses agentes que restaram, já passou dá hora deles. São apenas dois, conseguimos dar conta.

Continuaram conversando, estavam animados com a comida farta e com a bebida. Depois de um tempo já não falavam coisas com sentido. Despediram-se e o samurai seguiu seu rumo a um lugar desconhecido. Isaac estava animado porque já o considerava um amigo. Mesmo ele recusando ajudar, sabia que poderia contar com Hattori. De alguma forma era o mais próximo dele. Teletransportou-se para sua dimensão particular, sua cabeça inebriada por causa da bebida o deixava tonto. Deitou no chão gelado do vazio e pensou em tudo que o samurai lhe disse. Precisava lutar com inteligência e pensava em como fazer.

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Sinopse

Lenna, uma renomada caçadora de titãs, com sua companhia, é enviada para investigar uma cidade em ruínas que dizem ter sido devastada por um ataque de titã. Após uma batalha noturna, sua vida corre perigo e precisa contar com a ajuda de um jovem misterioso para sobreviver.

A Era dos Titãs

Guilherme Orbe

Desenhista, escritor e sonhador. Comecei a criar histórias na infância e nunca mais parei. No começo me dediquei as histórias em quadrinhos, onde desenvolvi minhas habilidades de desenho. Hoje me dedico a literatura, e transformo minhas histórias em livros. Criar histórias é meu passatempo favorito.

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